AMOR



O amor não parte corações, a paixão, ou talvez a paixão não correspondida ou frustrada por um término indesejado possa sim quebrar um coração, ou levar a doenças ou violência. O amor, da mesma forma não cega, não dói, não frustra, não enlouquece, não mata, não ofende, não é passional, não deprime, e não irrita, pois o amor nada cobra, nada oprime, nada destrói, o amor é mais uma espécie de doação, e de transferência, tem sempre algum viés de altruísmo e de engrandecimento do próximo, seja lá quem for este próximo. O amor, além de tudo, necessita e se completa mutuamente com um que de racionalidade. Racionalidade esta que o diferencia diretamente da paixão. Ambos são hormonais, são estados mentais de um status momentâneo do nosso circuito cerebral, nenhum delas é divino ou místico. Sim ambas são materiais, no sentido de serem construções emergentes da materialidade de um complexíssimo circuito neuro-hormonal. São coisas muito bem distintas, a paixão pode surgir a primeira vista, o amor requer construção, mesmo a amor pelos nossos filhos, codificado geneticamente em nossas entranhas nucleares,  se constrói e se nutre em plena gravides.
 
O amor possui várias facetas e variantes, mas em todas elas a característica principal de ser natural, de ser construção, de ser de dentro para fora, de ser aberta, franca, algo racional, e indiscriminado permanece. Quem ama não somente se vê no próximo, como vê o próximo em si, assim divide mentalmente a dor e as alegrias deste próximo, se alegra ou sofre com ele, está disposto a se doar por ele, está preparado para ousar em nome dele, está pronto para se reconstruir para ele.  
 
Me dou na força do meu amor e cobro na força de minha paixão. Construo na força de meu amor e me desgasto na força de minha paixão. A paixão, na força de seu fogo que arde e queima nos desgasta, nos destrói e nos reduz, aos poucos, à cinzas do que éramos. O amor, ao contrário, nos reconstrói continuamente, nos fortalece e nos prepara para uma vida que nada tem de fácil, justa ou ética, mas natural em si, por ser natureza, como tudo aquilo que existe.
 
A paixão é gostosa enquanto dura? Sim. Posto que chama que arde, que esquenta e que apimenta nossa libido, nossos desejos, nosso corpo animal que é preparado pela paixão para provocar nossa reprodução instintiva, mas o amor não sendo chama, é uma espécie de série infinita de termos de construções diárias de amor que dá corpo ao ser humano e a humanidade que nos diferencia dos irmãos de outras espécies animais. Uma paixão, como porta de entrada para nos permitir, no tempo do desgaste hormonal, que pode variar de alguns meses até sete ou dez anos, a construção de um laço de respeito, de afeto e de amor, é maravilhoso, posto que nossa mente está preparada para o fogo da paixão. Mas não podemos confundir a paixão com o amor. A paixão nos encanta, o Amor nos coloca como irradiadores de encantos para os outros. A paixão nos seduz, o amor ilumina. 

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 26/06/2013
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