Repetição

Repetição.

A muitos anos eu vivo a experiência da releitura.

Livros empoeirados, filmes antigos com chiados e imagem ruim, musicas com desgaste de tantos anos apertando o play repetidas vezes.

Essa interessante prática me mostrou que nem sempre as coisas seguem aquela lógica óbvia.

Eu tinha uma renovação a cada repetição, estranhamente eu tinha experiências novas com coisas velhas, mesmo que lentamente, a repetição se renovava, e eu percebia pequenas coisas novas naquilo que eu já conhecia.

E eu continuei repetindo, assistindo os mesmos filmes, lendos os mesmos livros, ouvindo as mesmas musicas, diversas vezes, por diversos anos. Como que em uma tradição, uma pratica quase que familiar.

Não é como se eu não ligasse para os livros novos, filmes novos e etc. Pelo contrário, sempre acompanhei de perto as novidades, sem nunca largar aquela velharia (Que parecia mais interessante.)

Fato é que aquilo se tornou interessante para mim.

E não só a repetição me mostrou que as coisas antigas se renovavam, como começou a me transmitir uma importância para elas.

Agora aquela velharia não só era mais interessante, como era mais importante para mim.

Dediquei tempo e reflexão aquelas coisas mais do que as coisas novas, e a velharia era agora pra mim minha velharia, meus filmes prediletos, meus livros especiais, minhas musicas que traziam lembranças únicas para mim.

Enquanto de um outro lado, via pessoas sempre consumindo coisas novas sem parar, freneticas por uma busca por algo bom, assistindo milhares de filmes e lendo centenas de milhares de livros.

Percebi que era tola essa busca frenetica, não davam a devida atenção para as coisas, não paravam para analisar ou refletir sobre uma única coisa. Nunca achariam um filme realmente bom, não tinham tempo de perceber a beleza contida naquela fita, tamanha era a velocidade que trocavam ela.

O mesmo com os livros, enquanto os livros já lidos não importavam mais para eles, buscavam os livros novos, e liam com tamanha velocidade, que não percebiam as palavras invisiveis, não percebiam a mensagem que o autor queria passar.

Tratavam os livros como um número a se mostrar, quantidade de leitura mais importava do que qualidade de leitura.

E foi assim com os filmes, foi assim com os livros, as musicas.

E foi assim com as pessoas.

Eu via beleza nas coisas antigas, pois dediquei tempo a refletir, a conhecer, e depois de tanto meditar comecei a ama-las, percebi o quão importante era aquele único objeto, e o tanto de significados contidos nele. Enquanto outra pessoa, não dedicou o tempo suficiente, procurava achar facilmente a beleza ali, como que pronta, facil e rasa.

Não é assim nos livros. Não é assim nos filmes, menos ainda com as musicas.

Não é assim com as pessoas.

E eu continuei repetindo.