Subjetivo, o que também sou. Inconsciente, o que sempre serei...


Mesmo na tentativa de analisar o subjetivo, o submundo do que somos, do que sentimos, do como percebemos, devo imprimir objetividade, ou pelo menos devo tentar imprimir tal objetividade. Sei que somos muito mais subjetivos do que normalmente pensamos, e do que gostaríamos que fossemos, mas é assim que nossa mente funciona, o inconsciente é muito mais ativo que o consciente, por mais que disto duvidemos, discordemos ou odiemos, a neurociência, ainda engatinhando no mundo dos mistérios mentais, já comprova esta assertiva (possuímos uma infinidade de processos zumbis, assim chamados porque processam independente de nosso conhecimento ou autorização).
É claro que qualquer um pode duvidar, até mesmo porque é mais fácil aceitar nossas falácias mentais, nossas catequeses condicionadas, os factoides diários que quase nos fazem super-homens de um projeto perfeito, nossa arrogância prepotente de que somos muito mais conscientes ou que se não o somos é por puro livre arbítrio nosso, alias sempre ouvimos que somos seres racionais, que se penso logo existo, e que a escolástica nos fez crer superiores e até mesmo imagem e semelhança de um deus, como poderia ser eu mais inconsciente do que consciente?
Como humanos que gostaríamos de ser, acabamos por entender o humano como algo que beira o estado da arte, a perfeição, o auge da evolução, e baseado nesta premissa induzida e catequisada ao longo do tempo, inclusive por nossos pais, a quem confiávamos em tudo quando crianças, fica difícil aceitar que somos imperfeitos, física, mental e estruturalmente, até mesmo porque a evolução jamais possui planos ou direção de “melhor”. Ao longo do tempo, o que tem sido uma constante é o aumento do grau de complexidade genética, mas cabe informar que os seres mais vencedores, mais “danados” e talhados à sobrevivência ainda são as bactérias, e estas estão entre os mais simples seres que existem e que já existiram. Toda complexidade carrega um maior grau de esforço e necessidade de energia para se manter.
 
Sou subjetivo, ele me domina inconscientemente, mas não posso deixar que a luta ocorra sem alguma mínima disputa. Não posso deixar que o subjetivo seja o dominante absoluto. Ele existe, ele sou eu e me transforma continuamente, me faz ser o que sou, mas também transformo ele, é a beleza da plasticidade neuronal, minha mente é sempre diferente do que já foi, e posso interagir nesta mudança, devo deixar meu subjetivo também um pouco diferente a cada novo instante. Não posso abrir mão de me transformar, também, pelo consciente, pelo objetivo, pelo racional, e pela análise crítica, e assim ir, pelas beiradas que seja, transformando meu submundo, e ir afetando aqueles que me compõem. Devo assim levar em conta que o subjetivo existe, que ele é real, e que emerge, como a inteligência o pensamento ou o consciente, também, da condição física de meu circuito neural, assim, ter a certeza que ele atua. Entretanto, não posso abrir mão de objetivamente procurar entende-lo, até mesmo como ele atua, como me transforma, como me constrói, o que realmente ele é e como neurologicamente ele se cria, se sustenta e me faz ser o que sou?
Saber que ele age no inconsciente já me coloca pelo menos mais atento a ele. Minha busca deve ser racional no seu entender, no como e no porque ele existe e atua? O subjetivo é primo irmão do inconsciente, ele finalmente é. Não posso abandonar a busca de como ele pode me ajudar na caminhada para o humano, imperfeito, falho, cheio de dúvidas, longe das certezas absolutas, longe dos universais, mas perto daquilo que pode me fazer mais humano, não super-humano, mas simplesmente mais biologicamente humano.

 
Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 17/08/2013
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