Todos, ninguem


Sejamos todos, todos sejamos, todos em tudo, o início, o meio e o fim deste mesmo tudo. No tempo que nada pode ser, somos com ele, e nele todos somos o que somente nós podemos ser, nada de verdadeiro sendo. Somente, na lei que nada por si só justifica, no justo que somente sem lei pode ser justificado, somos animais perdidos no tempo, perdidos no espaço, sem espaço-tempo que justifique a beleza da biologia que se fez maior que a física e a química. Cremos contra aquilo de deveríamos saber, e fingimos saber aquilo que sequer deveríamos crer, somos prepotentes em forma de anjos, somos vermes em forma de deus, somos sujos que fazem da falsa limpeza, a higiene física que deveria ser mental
Antissocial, sem sociedade, antissocial em plena anti sociedade, pois o que agora é me parece perdido, como nós mesmos, sem ser, sendo sem um ser, o ser que não sendo deixamos de ser, e somente sendo aquilo que no fundo, como seres desumanos, construímos sendo parte do tempo, que somente, e exclusivamente, se faz naturalmente excludente, se faz doente no desejo latente que a todos seduz e que a todos perverte. Antissocial por vergonha da sociedade, mas antissocial pela fraqueza que bate em meu peito de peitar os sábios que perdem o tempo que nos faz nos perder em desumanidades e em abusos do que seria ser humano, sem realizar nossa humanidade. Antissocial pela fraqueza de não encarar os donos do poder, as autoridades do saber.
Céu e inferno, inverno nuclear que mata espécies sem necessitar de nenhuma bomba nuclear, somente pela prepotência de realizar a vaidade de ser o deus que nós mesmos criamos, a nossa imagem e semelhança, para justificar os perdões que podem nos fazer menos perversos na perversidade da perversão do amor, pela não preservação do respeito ao respeito humano. Somente ignorantes e estúpidos seres destroem seu lar, pela posse de algum poder.
 
Louco, talvez não, pervertido, talvez sim, sem sangue nas veias para que pelo sangue dos justos possa me expor contra aqueles que pintam de sangue os corpos humanos em plena exclusão e abandono. Nas horas negras que percebo a maldade humana, sinto-me um ultraje, um traste de perceber e pouco fazer, de presenciar e não sofrer, de participar e não ter a nojenta vergonha de me transformar frente a tudo que a fome faz irmãos passar, e na qual cruzo diariamente, fingindo não ver, que faço cara de dor, mas que da dor real nada sinto.
 
Demente, doido, insano, este sou eu, ou este não sou ninguém que valha a pena ser.
 
Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 25/08/2013
Reeditado em 25/08/2013
Código do texto: T4451584
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