Bom senso e docilidade



Poucas coisas podem ser tão prejudiciais a vida e a humanidade quanto pautar sua existência meramente no senso comum ou na forma simples e plana de conviver com os outros e com a própria realidade do viver, especialmente em sociedade.
 
Não sei quem inventou que o senso comum beira a verdade, ou mesmo se alinha com a ética real, com a justiça social, ou com alguma essência da humanidade universal, como se pudesse existir uma ética absoluta. O bom senso ou é sempre corporativo, quando reflete a estrutura do pensar necessário a qualquer grupo seja ele pessoal, profissional, político ou econômico, ou é sempre baseado nos interesses pessoais, sendo assim repleto de preconceitos, uma vez que reflita o que eu penso, o que aprendi a pensar, e o que temo que deveria pensar, ou acaba sendo a ditadura da maioria, pois que reflete os interesses da maioria. Em nenhum destes casos reflete a real necessidade humana e social, pois que ela é muito mais dolorosa, dinâmica e prolixa a primeira vista, uma vez que abrir mão de meus ou de nossos interesses pelos dos outros, em especial pondo em risco minha estabilidade, meu poder, ou meu patrimônio faz com que o bom senso ou senso comum não dê valor maior a esta atitude e comportamento.
 
Outro senão é quanto a forma plana, simples, quase omissa, que muitos entendem ser a mais social. Quem disse que ser dócil e complacente é o que a realidade existencial humana precisa? Ser colaborativo não relega, a segundo plano, ser ativo, atuante, brigador. Ser colaborativo quando o interesse maior da humanidade se faz premente sim, mas ser colaborativo apenas para não criar atrito, discordo frontalmente. Entendo que o atrito é inerente e existência coletiva, sempre existirá atrito, o que deve ser evitado é o atrito pessoal, aquele do sentimentalismo, do subjetivo, intencional ou não, aquele que ataca a pessoa, entretanto o atrito de ideias sempre foi benéfico e necessário a criatividade e a construção de um conhecimento mais profundo, sincero e verdadeiro.
 
PS:  Eu entendo que bom senso e senso comum são coisas diferentes, mas para este texto preferi intercambia-las livremente pois passaria o exato sentido do bom senso como sendo a prática comum e corriqueira do que penso ou do que o senso comum e coletivo pensa.
 
Então nunca esperem de mim agir meramente pelo bom senso. Detesto o bom senso como linha diretiva de comportamento ou de decisões, hei de ter a atitude, a coragem e o desprendimento de buscar alternativas racionais (se existirem) ou pelo menos baseada em análise crítica, que me deem embasamento para o meu comportamento e para as minhas decisões, pelo menos naquela minoria em que de alguma forma conscientemente as tomo.
Também não esperem deste, um ser dócil. Por favor, não confundam respeito, carinho, educação, comprometimento e compromisso, com fraqueza. Sou um ser que tenta prezar pelos atos que toma, e sinceramente, a menos de pequenas mentiras pelo bem social, não costumo ligar muito para o que pensam de mim, a menos do que meus filhos possam pensar a respeito da aderência de minhas atitudes e comportamentos em relação com minha oratória.
 
Desculpem a grosseria, mas bom senso puro e simples para mim é contra senso, e docilidade por inação é imbecilidade.

 
Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 26/08/2013
Reeditado em 26/08/2013
Código do texto: T4452718
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