AOS PEDAÇOS

Se eu morresse durante o sono

De pronto um anjo me abraçaria

Seria um desses anjos barrocos

Só cabeça e asas

Sem aquelas bundinhas gordinhas

Que ornamentam as igrejas de Minas

Me envolveria em suas brancas penas

E eu morreria aos poucos

Como num profundo sono anestésico

Uma parte de cada vez

Primeiro uma das pernas

Depois a outra

Então já sem meus joelhos

Não poderia rezar

Pois só os humilhados podem orar

Ajoelhados nos frios pisos das igrejas

Meu destino estaria fatalmente traçado

Abriria-se para mim a tal estrada

Sem volta,com apenas um sentido possível

E eu sem poder ajoelhar-me

E sem voz para falar com Deus

Já que a garganta me fora emudecida

Só haveria um caminho provável

As cavernas obscuras do submundo

Em seus caminhos recônditos e insondáveis

Onde os desgraçados vagueiam

Implorando pela graça divina

Abraçaria minhas mazelas

E as carregaria como pedras

Tal qual Dante carregou as suas

Num inferno particular

Por toda a eternidade

E deve carregá-las até hoje

Posto que a eternidade inda não acabou

Aos poucos sumiriam os braços

E sem as mãos

Já não haveria como implorar o amor divino

Irremediável sina me seria imposta

Viver aos pedaços num pedaço de esquecimento.

GIBAWRITER
Enviado por GIBAWRITER em 08/09/2013
Código do texto: T4472106
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