Por que existe algo, e não apenas o nada


Porque existe algo, e não apenas o nada?

É natural que sendo realista e materialista creia totalmente que exista algo. Tenho uma infinidade de motivos, pressupostos e evidências para acreditar piamente que exista algo. Não coloco em dúvida esta questão, entretanto, ao mesmo tempo, não disponho de argumentos que positiva, crítica ou racionalmente respondam categoricamente a questão inicial. A, para mim, maior e mais importante de todas as questões, é aquela em que dependendo de sua resposta induzirá respostas a muitas outras importantes questões existenciais.
 
Buscando ser coerente, crítico e racional, fujo de toda e qualquer resposta que beire sofismas, subterfúgios ou verossimilhança, na busca de mero convencimento ou na intenção de meramente ganhar discussões, coisa que muitos fazem. Não sendo melhor e nem pior do que ninguém, mas buscando ser sincero com minha linha realista, materialista e secular, assim, entendo que a questão do porque existe algo e não tão somente o nada é uma pergunta que merece muita atenção, respeito e coragem, ainda mais quando esta questão me persegue quase que continuamente, me angustiando pela total incompetência e ignorância em conseguir alguma resposta concreta para ela. Esta questão me faz ganhar  muitas horas a fio (mesmo que para muitos pareça que estou perdendo estas horas) vagando mentalmente, pensando, e discutindo comigo mesmo sobre ela.
 
Como crente natural na existência de algo, seria fácil aceitar toda e qualquer explicação que me ajudasse na defesa desta argumentação, mas não é este o meu estilo, abraçar justificativas que não aceite, apenas para ter mais um argumento que me favoreça, porque não procuro explicações para o que creia, e sim procuro argumentos para que possa racional, lógica e criticamente crer. Monto minhas crenças pela racionalidade e não direciono minha racionalidade para justificar minas crenças, construo minha linha de entender o mundo, não pelo que deseje fosse verdade, e muito menos pelo que me pareceria mais intuitivo. Construo minha filosofia de vida e minhas crenças com aquilo que mais racional, lógico ou crítico me pareçam estar mais próximos de alguma verdade, mesmo que isto me obrigue a mudar toda uma linha de raciocínio, a refutar toda uma construção de crença. Assim, não pude concordar com a colocação abaixo, assim que me deparei com ela em leitura a um livro que acabara de comprar. Vamos a ela:

Suponhamos que não houvesse nada, Neste caso não existiriam leis, pois as leis, afinal, são algo. Se não houvessem leis, tudo seria permitido, nada seria proibido. Assim, se não houvesse nada, nada seria proibido. O nada é portanto autoproibitivo. Logo deve existir algo.  Quod erat demonstrandum.”
 
Este texto está no prologo daquele livro. Ouso, assim, discordar da colocação. Não discordo de que algo exista, mas tenho que expor minha discordância.
Concordo que se não existisse nada, nada seria proibido. Por continuidade entendo que tudo seria permitido, até mesmo a existência do nada. O nada permitiria tudo, inclusive o próprio nada, mas o nada, apesar de nada proibir e tudo permitir, impossibilita por si só a existência de algo. O nada permite, mas permitir não é afirmação de existência. O nada permite, mas não obriga, não obstante impossibilita a existência de algo, assim, “nada seria proibido”, não pode, e nem é, uma implicação direta para que algo “tenha” que existir. De novo, tudo seria possível, inclusive o próprio nada, e desta forma o nada poderia assim existir e ser verdadeiro.
 
Creio que como muitos jovens, ou mesmo adultos, meio que revoltados com a linha filosófica básica das religiões, e rebeldes por essência, comecei a me interessar pelo existencialismo, isto era natural, pois que a metafisica por si só parecia ser superior a própria física (como muitas pseudociências parecem por si só um passo a frente da ciência), e também porque ao longo dos anos de minha educação, toda e qualquer curiosidade metafisica referente ao porque existimos, havia sido sufocada pela educação religiosa cristã. Deus criou o mundo, e a seguir criou o homem a sua imagem e semelhança, e isto bastava, sem discussão. Aos poucos percebi que o existencialismo, não obstante responder muito do que pensava, era incompleto em sua abordagem, era superficial, e aos poucos me envolvi cada vez mais com o realismo e o materialismo. Isto por si só me responderia de pronto que realmente existe, e tem de existir, algo, mas mesmo assim não responde, e talvez nunca responda, o porque existe algo e não simplesmente o nada eterno e absoluto.


 
Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 12/10/2013
Reeditado em 23/10/2013
Código do texto: T4522732
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