Poucas certezas


Sou realista, naturalista e secular, amo assim o imanente, a realidade e a vida. Cabe lembrar que em minha interpretação, a matemática, o pensamento, os sentimentos e as emoções, não são menos reais, pois que em última análise, mesmo que pareçam abstratos, emergem diretamente, de processos não menos físicos, químicos e biológicos, em pleno circuito cerebral.
 
Enquanto alguns se esforçam para amar algo transcendente, eu me esforço por construir mentalmente e aplicar no comportamento, um respeito, o maior possível, por todos os humanos. Não me engano com a ilusão de que sou capaz de amar verdadeiramente a todos, em todos os lugares. Não, não consigo, com isto, ou por isto, invisto muito de mim na construção do respeito sincero, e socialmente humano, por tudo que exista, pela natureza, pela vida em todas as suas variedades, e por decorrência natural, por todos os irmãos em espécie.
 
Enquanto alguns se esforçam por amar a algo transcendente, eu prefiro buscar amar de todo o meu ser, de toda a minha mente, e de todos os meus seres, o imanente, o natural, a vida e o agora que já não mais sendo, continuamente se faz novo.
 
Enquanto alguns se esforçam em amar algo transcendente, e que afirmam amar o transcendente amando a vida em toda sua múltipla existência, fazendo por onde dignificar o social, e também amando a natureza real como um todo, eu quero dizer que além do respeito natural que nutro por todos, gostaria de tê-lo como amigo, não pelo amor ao transcendente, que sinceramente não me diz absolutamente nada, mas gostaria de tê-lo como amigo, parceiro e companheiro de luta, pelo amor a natureza, a vida, ao humano e ao social.
 
Enquanto alguns se esforçam pelo amor a algo transcendente, estudando revelações, aceitando autoridades do saber, e respeitando cegamente dogmas e rituais (pré)estabelecidos, eu me empenho em buscar tentar me entender profundamente, entender os mistérios de uma mente falha emergente de um cérebro imperfeito, limitado e cheio de bugs, para assim buscar entender, o mais racionalmente possível, os irmãos, a natureza e a existência em si, depois de profunda análise crítica, por um livre pensar, e sem preconceitos de ir o mais longe possível nesta análise, e de dar chance aos opostos e ao atrito de ideias, para poder, continuamente, ir refinando minhas crenças e construindo o meu saber, sabendo que sempre tenho de estar alerta para a necessidade de ter de jogar tudo, ou parte do que sei e do que creio fora, frente a novas informações.
 
Enquanto alguns têm certezas de suas verdades, ou das verdades que lhes são ensinadas, e que são capazes de sentir estas verdades em seus seres, eu, por outro lado, tenho muito poucas certezas, a de que existo, a de que sou muitos, a de que quase nada sei, e que o pouco que sei pode estar errado sendo passível de ajustes ou mesmo de abandono, e finalmente a certeza de que a morte é minha companheira.  “Haaa”! Tenho outra certeza, a de que sou muito pouco humano ainda, frente ao potencial de humanidade que a minha existência me possibilita ser, e muito pouco social, frente a realidade do que a exclusão social que assola uma verdadeira multidão de irmãos me obrigava a ser...




 
Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 20/10/2013
Reeditado em 23/10/2013
Código do texto: T4533851
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