A poesia
 
A poesia não existe solta, não existe em si só, e nem existe por si só. Exatamente como o amor, a poesia não é objetiva e não possui vida própria, mas diferentemente do amor, que eu construo em mim mesmo, e que ganha vida plena em meu ser, a poesia só ganha vida plena e existência própria no leitor poeta, e não necessariamente no escritor, por mais bela que seja sua construção plástica material.

Linguagem existe, a poesia se cria. O meio existe, a poesia se faz em pleno meio de linguagem. Eu existo, mas o amor eu necessito construir. O corpo existe, a alma mental se faz neste, e por este, corpo.

A poesia se cria, mas apenas em parte, ou apenas e tão somente na parte de quem a cria. O meu amor eu construo, pelos outros, mas o meu amor existirá, depois de construído, mesmo que os outros o desprezem ou o reneguem. A poesia eu a crio, é verdade, mas não necessariamente para mim, seria  mera vaidade, exaltação de orgulho, ou mesmo ostentação ou presunção, ela já estava em mim, mesmo que sem semântica aparente, ou sem consciente pré-verbalização, eu a crio para o mundo, para os outros, assim diferentemente do amor, ela só ganhará vida plena poética, mesmo que subjetiva, aos olhos e mentes dos leitores poetas, ou do escritor que também seja ele um leitor poeta. Um poema escrito pode ser somente uma linguagem, ou mesmo uma versificação, mas a beleza da poesia surge na mente poética dos leitores, mesmo que sejam estes seus próprios escritores.

Por melhor tecnicamente que seja sua construção, uma poesia frente a corações e mentes doentios, a almas frias, cruéis, desgostosas e desumanas, não possuirá beleza poética alguma, porem, aos olhos de uma alma mental poética, de um coração aberto, de uma mente humana, ou de um bom homem, mesmo uma construção plástica simples ganhará ares de bela poesia.

Para o poeta escritor, no início era a página em branco, e a construção poética se faz pelo verbo da escrita; para o leitor poeta, no início era uma mente humana, um homem bom, um ser poético, e assim a poesia se faz presente pelo verbo subjetivo da interpretação, da visualização, e da construção de suas imagens poéticas, no eu que pensa pensar, mas que sente o que lê, que vive o que interpreta, e que se emociona com o que vive. 

Se todos fossemos um pouco mais poetas, talvez fosse mais fácil construir o amor.
Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 17/11/2013
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