Ciência ou arte?

Ciência ou arte? O que é mais nobre? Qual seria mais bela?
Pergunta complicada, pois esconde por trás de si valores, e estes são sempre pessoais, nunca universais, e podem mudar, mesmo individualmente, ao longo do tempo.
 
Eu pessoalmente, seria francamente tentado a responder, sem refletir sobre o assunto, que seria a “arte científica” ou mesmo uma “ciência artística”, mas é óbvio que esta seria uma resposta um tanto idiota e imbecil, seja “in”becil a negativa do que quer que seja, pois que apesar de acreditar ser possível alguma arte científica, (uma obra de arte com toques de ciência), para o oposto, creio não ser possível uma ciência artística, pois que o que possuem de belas, encantadoras e nobres, a ciência e a arte, possuem de diferentes entre si. A ciência requer método, a arte mesmo que possa se utilizar de método, requer pura criação. A arte é uma criação por natureza do que ela é, e é bela por isto, a ciência nunca é uma criação, ela é uma descoberta, uma comprovação, é enfim um aprendizado na busca das verdades do que é e do que existe de natural em nosso universo e em nosso viver. A arte é uma inspiração criativa, é como uma invenção do espírito poético que nos acompanha, a ciência é uma modelagem do que aqui já existe. A arte brilha pela criatividade e pelo espírito criativo, brilha pela criação do que aqui ainda não existe, a ciência, por si só, percebe, busca, pesquisa, testa, comprova ou refuta, modela, faz proposições, busca desesperadamente formas de refutar o proposto, mas somente atua sobre o que aqui já existe, é uma leitura do livro natural do que existe, do livro real do que já é. Algo mais lindo do que descobrir nossa natureza, nosso viver, nosso universo e talvez mesmo outros mais? Algo mais lindo do que fechar os olhos e deixar Mozart te levar, ou deixar um heavy metal te empolgar?
 
Ambas, Ciência e Arte, são lindas, importantes e poderosas, cada uma ao que se aplica. A pergunta inicial, assim se mostra mais do que complexa, mostra-se um pouco maldosa e incoerente. Como comparar coisas diferentes, elementos tão díspares? Ambas nascem do espírito e ao espírito alimentam, mas de forma bem diferenciada e de forma bem específica. O que é melhor, a quinta sinfonia de Beethoven, ou a relatividade geral? Qual delas é mais bela? Qual delas é mais nobre? Uma obra de aleijadinho ou a teoria da evolução? Um simples teorema de Pitágoras, ou a letra de nossa música predileta? A pintura da Mona Lisa (la Gioconda) ou a incerteza de Heisenberg? A busca e a descoberta do Boson de Higgs ou uma melodia que nos encanta? A dualidade matéria energia ou mesmo a nossa série televisiva preferida? A mecânica quântica ou um desenho do Walt Disney? Isto é meio que perguntar, o que é melhor, um carro, ou uma conversa profunda com Richard Dawkins? Uma boa música ou um relógio de pulso? Vai depender de muitas coisas, mas sempre será apenas uma questão de momento, pois que estamos comparando coisas bem diferentes, com utilidades e valores bem diferentes.
 
Ciência ou Arte?
Só posso responder os dois. Um em nada substitui o outro, um em nada responde pelo outro, quando muito um pode, em nosso espírito mental, completar ou outro, podem juntos nos completar como humanos. A ciência por me permitir ler o livro da vida, o livro do mundo, o livro da mente, o livro do viver, e mesmo o livro da morte, o que, inclusive, me permitirá entender por que aprecio uma boa obra de arte. A arte por ser algo de criação, algo que dignifica e enobrece o espírito humano, por ser algo próprio enquanto nasce e universal depois de pronta, que pode ser copiada, mas nunca testada ou refutada, que nunca se preocupa com a verdade, pois se preocupa apenas com nossos sentidos de beleza e apreciação, e por permitir passar na própria obra, muito do autor. A ciência pelo que ela pode ser prática e verdadeira. A arte exatamente porque jamais será verdadeira ou falsa, posto que é pura criação. A ciência, pois que mais cedo ou mais tarde, alguém a descobrirá. A arte, exatamente pelo seu oposto, se não tivesse existido o autor, a obra nunca seria criada. Se Einstein tivesse nascido morto, algum outro humano, mais cedo ou mais tarde, descobriria a relatividade, esta é a beleza da ciência, ela é, ela é a descoberta do que já existe, daquilo que nos permite existir, daquilo que já aqui está. Se Vivaldi , Mozart, Beethoven, Aleijadinho, ou Da Vince tivessem nascidos mortos, suas obras, suas criações artísticas, jamais teriam sido criadas, outras sim, talvez melhores, provavelmente piores, sim, mas exatamente iguais não. Esta é a exatamente beleza motriz por detrás da arte, ela é única, é própria, é totalmente dependente do autor para sua criação, ela é puro produto da criação, mesmo quando plagiada, ela tem um que de criação.  
 
Os filósofos são, ao seu estilo, um pouco artistas e um pouco cientistas, artistas porque criam o que ainda não existe, e cientistas porque não podem e não devem abrir mão da verdade, filosofar apesar de ser criar, diferentemente da arte, deve possuir total comunhão com a busca da verdade, e com a busca da felicidade, pois que buscam o além da ciência, sem abrir mão dela, criam, pois que ainda não conhecem, mas criam baseado no que já conhecem, no que já existe, e mais ainda, criam na busca de abrir caminhos para que a ciência possa buscar domínios sobre mais este assunto, pois que, cada vez mais hoje, filosofar sem mínimas bases científicas é loucura. Filosofar requer racionalidade, mas requer também criação.
 
Amo a ciência, amo a física, a astronomia, a cosmogênese, e a neurociência, mas tenho uma “paixão” maior, uma quase “veneração” maior, um amor maior ainda pela matemática, porque entendo-a como a maior de todas as criações nascidas de intelectos humanos, de mentes humanas, se seres humanos, uma criação que por si só, sendo uma abstração pura, sem necessidade de refletir verdade alguma, me permite descobrir verdades científicas, que nada mais são do que verdades do que já aqui existe. A matemática, por ser a maior das abstrações, nunca busca a verdade em si. Perguntar a um bom matemático se aquela resolução matemática aponta pra uma verdade é sem sentido, ele responderá se aquela resolução está correta ou errada, somente quando uno a matemática com alguma realidade, quando trago para o modelo matemático alguma pressuposição do que é real, é que a matemática vira ciência, vira física, vira algo que pode agora sim mostrar a verdade ou identificar absurdos.
 
Então a matemática, para este que escreve, é uma arte pura, é uma criação, nunca uma descoberta, mas uma arte com características próprias, uma arte que passa a ser de uso universal na resolução da ciência e no uso cotidiano de nosso viver. Diferente da arte, entendo que sem o conceito matemático seria impossível viver, mas sem a matemática em si podemos viver, como vivemos por milhões de anos. Para nossa sobrevivência necessitamos naturalmente do conceito matemático, nossa mente é bastante bem matemática: Distância a saltar, força e ângulo do arremesso de nosso dardo para acertar a caça, nosso predador ou mesmo nossos inimigos, velocidade de fuga, tempo e direção de algo que nos foi arremessado, para que possamos escolher alternativas de fuga, quantos éramos e quantos eles eram, mesmo que não soubéssemos ainda contar, mas para decidir se lutávamos ou nos retirávamos, o conceito matemático sempre foi importante para a nossa sobrevivência.
 
Ciência ou arte? Arte ou ciência? Preciso mais da ciência do que da arte, mas quanto a nobreza e a beleza, me sinto sem competência para escolher, pois que entendo ambas nobres e importantes, e cada uma atua sobre uma área específica do ser em si mesma, ambas nos completam, ambas alimentam nosso espirito mental, ambas nos reconfortam, pelo menos para alguém, que como eu Ama de paixão o conhecer, o descobrir, assim ama a ciência, pois esta é tão somente este conhecer e este descobrir, a ciência séria nada inventa e nada cria.  

 
Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 19/11/2013
Código do texto: T4577425
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.