Fios de sombra

Palavras sempre serão palavras. Elas nunca representarão tudo, assim como nunca serão um nada. Sempre trarão consigo a mesma dor de um ser imutável. E se acha, adianto que elas não melhoram nada. Elas não curam nada. Confortam os tolos, isso é fato. Mas também, destrói os outros como se isso fosse pior que uma facada. Como se o ar fosse incapaz de apagar seus vestígios. E embora a lembrança sempre insista em trazer à tona aquilo que à 1 segundo atrás foi pronunciado, mesmo o vento decidindo engolir, mesmo que nada reste, ela insistirá em alojar em seu ser. Mas isso se resume a lembrança de pobres, pobres seres humanos, pois é tudo que restará de suas preciosas 'palavras' ditas e escutadas, enquanto elas próprias, insistem em morrer na sombra do vento.

Defino tudo isso como fios de sombra, e isso representa tudo aquilo que sai da nossa boca, e que aos ouvidos de outros fazem sentido. Pense na voz em si. O que seria ela, senão a mãe da escuridão? Sim, não existe nada belo na linguagem em si. Nem mesmo em declarações românticas, e nisso muito menos. Dizer um 'eu te amo', sabendo que todos estamos sujeitos a morrer, é algo belo? Pra mim soa mais como abandono, e como sofrimento e egoísmo. Iludir-se com amores, amizades, e tudo mais, só porque foi dito poucas palavras? É isso que a língua faz. Sempre fere os outros com seu chicote avassalador. Acerta a alma de todos, seja lá quais palavras forem escolhidas. Ou você brinca de iludir, ou de ferir. Não existe meio termo para isso. Falar é sinônimo de machucar. Confortados são aqueles que acreditam em conto de fadas. Na vida real não existe isso. Tudo não passa de fios de sombras que apagam cada vez mais a luz do seu interior em forma de coisa invisível, que é capaz de causar até morte. Apenas apagando a cada expressão.

E isso aos poucos. Como uma forte tortura lenta e dolorosa. Parece até imperceptível, mas tudo só revelará seu verdadeiro negrume quando a terra fizer teu papel e resolver te envolver. Doces palavras.

Marçal Morais
Enviado por Marçal Morais em 25/01/2014
Reeditado em 25/01/2014
Código do texto: T4663814
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