Toda tristeza

Estou triste porque este será meu último século

Estou triste pelos objetivos mal conquistados

Estou triste porque a história não condiz aos fatos

Estou triste porque o verbo amar se tornou insustentável

Estou triste porque nunca chorei quando foi necessário,

Nunca se quer despejei uma lágrima sem importância.

Estou triste pelo fim de uma geração e revoada de outra

Indiscreta, mal sabedora das vertentes giratórias em nós.

Estou triste por ter certeza que meu pai foi e continua sendo

Um herói e nunca juntei coragem suficiente para lhe dar um abraço.

Estou triste pelas nascentes que morrem, pelas arvores que caem

Estou triste pela formiga que trabalha sem cessar

Estou triste pela joaninha que caiu depois de quebrar as asas e atrasou seu voo.

Triste pelas vidas que não se firmaram

Triste pela cor cinza do seu desespero

Triste pelo mendigo que tem nas mãos a liberdade e não sabe usar

Triste pelo pedaço de pão jogado no asfalto

Triste por aqueles que só sabem atirar pedras e por aqueles que

Não sabem o valor de uma vida, seja ela qual for.

Estou triste porque ninguém nunca me encontrou

Estou triste por ser triste

Estou triste porque poeta que sou envaideço-me com nada

Estou triste pelo findar de cada momento transformado em passado

A tristeza me corresponde fielmente

Um semipoeta da solidão mochileira

Um poeta que ouve as montanhas

E sente o peso de cada rejeição.

Estou triste porque nunca soube ser diferente.

Estou triste porque ser triste é ser diferente.