A culpa é sua, Alice.

Fico imaginando o quão minhas vitórias e conquistas devem ser ser pequenas aos olhos dos outros.

Tipo: tenho prazer em poder conversar com alguém e que a pessoa não fale em Deus e sua doutrina na sociedade (mesmo ela sendo religiosa); não comente algo que passe nos jornais das grandes emissoras como uma verdade inquestionável; e que não utilize termos preconceituosos, racistas, machistas e homofóbicos – mesmo sabendo que eu mesmo os comento. É uma vitória tremenda dialogar onde não esteja presente a alienação, a ignorância por opção, a intolerância.

Fico feliz também, tenho até certo prazer, quando consigo passar a mensagem nem que seja para um único aluno/a, e a partir disso ele consiga refletir sobre o mundo. Tomar uma cerveja, sozinho ou com amigos, na sexta-feira à tarde é algo que me deixa extremamente contente e me sentindo vitorioso. Ficar nas conversas, nos carinhos e no sexo com meu bem sem nos preocuparmos com horários, outras coisas para fazer, cansaço, etc. entra nesse rol de conquistas.

Outras vitórias para mim: ter uma resposta compreendida e aceita, ter meu nome citado como exemplo em algo que realmente gostei de fazer, ou ver alguém pelo menos lendo um texto meu.

São todas pequenas coisas, que podem significar nada perto de ter um bom carro, passar num concurso federal e entrar nas altas titulações acadêmicas. Minhas conquistas irrelevantes, que para os outros não devem dizer nada, para mim são por demais relevantes. Devido à complexidade dessa sociedade que estamos inseridos, às contradições desse modelo insustentável, aos tantos obstáculos, mazelas e discriminações recorrentes, fico feliz por conseguir o “mínimo”.

O “mínimo” que refiro é algo como ficar a madrugada toda acordado, pensando no mundo e refletindo sobre a vida e minhas ações e escrever esse texto, o primeiro na agenda que minha prima Alice me deu faz dois meses, e ficar feliz e realizado por isso.