A Simplicidade de Nós Dois

Cara, eu queria te abraçar. Agora mesmo, queria te agarrar pelos braços e só soltar quando a minha consciência começasse a falhar. Queria sentir teu cheiro, teu calor, ouvir teu sussurro dizendo alguma bobagem aleatória pra tentar me fazer sentir melhor. Queria socar seu estômago de raiva, beijar tua testa, roubar tua xícara de café de manhã. Adoraria poder lhe contar umas coisas. Não tudo, sabe. Eu sei que tudo eu jamais diria pra pessoa alguma, mas seria legal ter você pra arriscar dizer uma coisa ou outra. Pra ti, criaria até paciência pra ouvir sobre tua vida, família, colega, cachorro. Eu faria esse esforço. Já me fechei tanto, sabe? Prometi que aqui, jamais alguém nem ao menos espiaria. E cumpro esse promessa piamente... Não existe chave pra mim, segredo, palavra mágica. Não sou tua princesa pra resgatar, nada disso. Estou mais pra coadjuvante, figurante da história de alguma moça bonita, perfeita, que foi feita pro papel. Não tem papel escrito pra mim, então me jogam no canto de cenário que sobra depois do conto de alguém ter seu final feliz. Então amor, entende: eu não estou atrás de final feliz. Só quero chegar a um final, seja lá qual for. E seria legal não chegar sozinha, só isso. Ter alguém pra rir da minha vida, pra me ajudar com minha bagunça, pra aceitar as partes mais judiadas de mim. Eu não quero teu príncipe, utopia, idealização. Só um amigo, um amigo que dê pra amar. Amar de verdade, sem frescuras, sem cortes ou mudanças no roteiro pra criar alguma falsa perfeição. Quero nada além da aleatoriedade de uma vida comum, simples e de vez em quando, bonita. Com uma ou duas histórias que valham a pena ser contadas no final, só isso. História da gente, porque só comigo, eu já estou cheia. Cheia de me amar e me odiar, está na hora de essas janelas se abrirem um pouco. Pra ti, pra quem quiser catar as folhas velhas que voarem dela, quiser varrê-las comigo, ajuntá-las num montinho dum jardim vazio, jardim que a gente possa colorir.