Pulsos

Vamos sair, gente. Vamos lá, agora abrir as portas de casa em plena madrugada, vamos sentir o cheiro e o gosto da noite, dessa gente toda, dessa vida toda tão desconhecida e despercebida aos nossos olhos. Vamos dar uma chance, isso sim. Chance ao estranhos, a nós mesmos, nossas vontades, dúvidas e impulsos esquecidos. Temos mais é que reavivar a juventude, por mais estranho que isso possa soar. Todos os dias, almas velhas morrem e renascem por pura obrigação, todo dia a gente desiste, deixa a fantasia pra lá, se compromete com o supérfluo, o vazio, aquilo que a gente não precisa. Vamos armar uma tenda, deixar o relento rasgar nossa garganta, arrebentar as cordas dum violão: vamos amar, vamos viver, deixar a raiva correr, o ritmo controlar nosso passo, dançar feito louco até amanhecer. Eu não acho que a vida seja curta ou preciosa demais, muito pelo contrário. A vida é uma piada de mau gosto, uma brincadeira infame pra nos enganar e nos fazer criar valor pro inexistente - chega disso. A vida é um escracho, então sejamos também. Um escracho gostoso de sentir, de lembrar, de marcar nessas páginas velhas que há muito não recebem palavras ou assinaturas de ninguém.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 24/03/2014
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