Meu Palco Vazio

É tão estranho ter essa consciência de tudo. Que tudo é final, definido e não há razão para lutar contra isso. Eu sei o que sou, quem sou e o que existe para eu fazer aqui, pronto. Sem drama, sem sonhos, vontades ou escapatórias de quando ainda cultivava alguma inocência em mim. Mas que falta isso faz, essa crença boba de que ainda tem jeito, que ainda tem muito o que acontecer, que o tempo não corre. Queria conseguir agir assim de novo, sabe. Fechar os olhos, respirar com calma, me perder em mim mesma e nos meus devaneios de criança. Acho que não existe nada mais belo, mais puro do que isso, essa ignorância toda. Ignorância quanto a vida, as pessoas e especialmente, a si mesma. Acreditar que ainda dá tempo de mudar, de descobrir e experimentar, de que, só por hoje, o dia é seu para fazer dele o que quiser. É uma saudade quase mórbida que eu sinto disso tudo, mas tudo bem. Eu já senti o que cabe dentro de mim, já dei todos os risos e abraços que me pertenciam, já sonhei tudo que a minha limitada alma consegue carregar. Ah, se não fosse por isso! Se não houvesse essa bagagem, não iria em frente, disso eu tenho certeza. Se não fosse por aquilo do qual eu me alimentei todo esse tempo, seria totalmente vazia. Hoje eu sou vazia e aceito, lido com isso. Mas alguma coisa lá atrás valeu a pena, mesmo que não tenha sido real. Aquela ingenuidade toda me deu fôlego, algum resquício de coragem, alguma vontade estúpida para levar comigo hoje e nos dias que ainda me virão, mesmo que escondida. Os pensamentos e perguntas jamais me deixarão em paz, disso eu sei também. Mas eu aguento, eu aceito, até chego a querer: contanto que eu possa me dar ao luxo de me deliciar com toda aquela tolice por só mais um segundo, de sofrer e ter prazer com a nostalgia, vai valer a pena. O tempo corre, voa por mim todos os dias, mas os sonhos não deixam de ser a minha única fonte de vida, de juventude nessa alma velha e sucumbida da realidade que eu confesso e glorifico ser. A verdade é que não devia mais é sonhar, mas é a única coisa que eu sei fazer, mesmo que acabe sendo como tantas outras vezes, a minha ruína: doce e dolorosa, como eu sempre a abracei e guardei junto de mim.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 08/04/2014
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