" Andarilho noturno..."

"Adorava passear pela noite, sempre tão calma e vazia naquela velha cidade do nada-pra-fazer. Tudo era tão calmo, tão silencioso que parecia por breves instante estar sozinho, sendo um ninguém... O que somos afinal quando não temos nada de atenção em cima de nós?

A vida lhe exigia, de sua maneira estranha de exigir e que só ele talvez soubesse como, pois a vida era sua, e uma de suas exigências mais básicas era a sua afirmação do que era... Por sinal, era a principal coisa que nunca sabia dizer, pois lentamente tudo sempre mudava, até mesmo as perguntas que fazia em sua cabeça buscando a resposta certa sobre isto - talvez por isto nunca se achava, em esquina alguma.

Sozinho na noite, na rua deserta com qualquer nome que nao importava, quando nada exigia nem ninguém o olhava; quando era um ninguém para si mesmo; se entendia melhor, mesmo não entendendo nada. Talvez as perguntas lhe buscassem conhecer, mas também sem as certas - que nunca se sabe quais são - o que tinha muito provavelmente eram algumas materializações de ideais subjetivos e construtos sociais - tudo o que mais odiava ...

Provavelmente ali, distante de todos os olhos, fosse na verdade aquilo que era, livre de suas prisões: um ninguém. - o que muitas vezes era melhor do que ser muita incorporação da hipocrisia auto denominada alguma coisa, ou a construto de alguém qualquer.

Sabia que mesmo saber o que era não fazia sentido, e, na verdade, apesar das exigências da vida, sabia também que prender-se em suas imagens de si era vicioso e venenoso. Ser um ninguém indefinido pelo menos não lhe soava como materializado, feito, pronto, e sim como aquilo que tanto quanto a vida surpreende, surpreende-se a si mesmo, e a própria vida.

Vivia, andava pela noite, e a cada esquina era um ninguém diferente...

Via o que via, e o que não via, esperava - pelo menos não se afogava na agonia."

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[ ... inacabado...]

AyA
Enviado por AyA em 14/04/2014
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