Fim dos Tempos!

Hoje é o fim do mundo. Hoje. É. O. Maldito. Fim. Do. Mundo. Ou fim de nós, que seja. Com toda nossa arrogância umbilical sabemos que como nós somos o mundo...somos o fim, é o fim do mundo. Mas isso não importa. O que importa é que hoje é o fim do mundo. Ou isso também não importa. O que importa é o que farei dele.

- E o que farei dele? - essa pergunta que já me corroeu por diversas vezes, perdida na inquietante indagação do que faria em meu ultimo dia de vida volta à tona. E hoje é meu último dia de vida. E não só meu! Nem isso eu posso ter só meu! Cadê a importância no meu fim?

Mas isso também não importa. E na importância da minha grande questão, uma resposta pisca sob minhas pálpebras: NADA! NADA!

Mas o que é isso? Por acaso zombam de mim?

- NADA! NADA! - e eu quase posso ouvir a voz irritante do papagaio do vizinho da minha avó. - NADA! NADA!

Papagaiozinho do quinto dos infernos! Que tem o nada? NADA! NADA! Realmente!

Francamente! É a coisa mais absurda imaginar que justo hoje, quando o tempo é cada vez mais escasso e nada posso fazer à respeito, pois nada mais haverá. Esse nada puxa saco e revoltante pousa em mim como abelha em cima da coca cola! Pronto! Falei da coca, agora é desejo!

- NADA! NADA! - Droga! Eu sei que não tem nada de coca pra mim hoje, cada vendedor embolado embaixo da cama com medo ou abrindo o peito pra ir fazer tudo que se deve fazer no último dia de sua vida. No dia do fim do mundo. No dia do fim de nada! Porque nossa ínfima existência efêmera é o completo nada! E essa maldita palavra não sai da minha cabeça. Que raios!

- NADA! NADA! - vontade de agarrar esse papagaio! Sugere então que eu faça nada? Absolutamente nada? No dia do fim do mundo? - NADA! NADA!

Talvez o melhor seja fazer nada realmente, porque a primeira coisa que faria é esganar a voz do papagaio maldito em minha cabeça! Mas o nada até que não é de todo ruim. O que há pra fazer, aifnal? TUDO! É o que há! Mas se há tanto, tanto, tanto assim, quer dizer que nunca fiz...

- NADA! NADA! - deito na cama. O rosto vermelho, irritadiço, afobado. NADA! É exatamente o que farei. Se não fiz até agora, de que me adianta fazer no fim do mundo? É o fim do mundo! Quem se importa? Eu que não! Se eu sobreviver ao fim do mundo, aí sim farei tudo! Faz mais sentido. Nada é o que há!

Há nada de mim agora. Haverá nada de mim amanhã. Houve nada de mim sempre.

Ufa! Papagaio já virou nada! E nada logo permanecerei, então apenas esperarei, em meu mais acolhedor e infindável nada, até que nos tornemos tão nada, que finalmente pertencerei à algo, e abraçarei um irmão.