Silêncio Meu e Teu

Volta, só volta pra cá. Volta pra onde eu posso te ver de longe e lembrar daquela segurança, pra onde eu sei que tu sempre me espera com aquela calmaria que parecia ter sido feita pra mim. Pra me acalmar, me colocar de volta no lugar, não me deixar esquecer do princípio desse caos todo, de quem eu queria ser, quase era quando estava contigo. Eu me sentia totalmente sua. Devota, perdida, entregue nas suas mãos, nos teus braços pra me levar pra onde tu quisesse, me pôr pra dormir, tirar madeixa de cabelo embaraçado do rosto, deixar eu te segurar com força quando meu fôlego resolvesse ir embora. Que falta tudo isso me faz, cara. É tudo tão diferente sem aquilo tudo que a gente construiu; sem as bobagens que nos fazia rir, as particularidades, os cheiros, os gostos, os ares. Parece outro universo, outra vida isso aqui. Uma vida que, sinceramente, não faço questão de viver sem ti. Sem sentimentalismo forçado, é claro: eu estou aqui e vou continuar. Mas como eu era antes, sabe? Antes da tormenta que você foi, da brisa das tuas palavras, do sabor dos teus toques. E isso não era bem vida, entende--eu apenas me arrastava esperando tu aparecer, mesmo sem saber quem seria no final das contas. Eu mentia pra mim mesma, me fazia acreditar que estava tudo bem, que não precisava doutra pessoa pra me aguentar. Vou fazer tudo isso de novo, criar, inventar loucuras pra me entreter, fingir que tu não me faz falta alguma e ir em frente. E tudo vai ficar bem, como se você não tivesse sido nada real pra mim, e dessa verdade, ninguém jamais irá saber. Vai ser nosso segredo estúpido, imoral, infantil, só nosso.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 24/04/2014
Código do texto: T4780502
Classificação de conteúdo: seguro