Vambora

É tão difícil desistir de tudo. Por mais que você já não queira mais nada, não tenha força alguma para querer seguir, mesmo que involuntariamente, nós criamos aquela esperança escondida na gente. Nós não a vemos, nem ao menos sabemos que ela está lá, mas ela é a nossa base, nosso chão dia após dia. Ela que nos faz ir em frente quando o presente nos sufoca, nos cega demais; ela nos dá fé no amanhã. Mas aí vem aquela hora que nem mais isso é o suficiente para te fazer continuar: tudo, qualquer pensamento, ação, passo parece inútil. Você já vê, já adivinha o amanhã e definitivamente não quer fazer parte dele. Sinceramente, acho que esse é o último estágio, não ter mais nem um mísero vestígio de crença, esperança, vontade, mesmo que não seja pelo hoje. Mas não conseguir mais enxergar luz alguma no amanhã, esse é com certeza o fim. O fim de tudo a que você já deu valor, já teve anseio por, já foi e quis ser. Nada disso tem mais lugar na sua visão, agora é só esperar. O que exatamente, também não sei. Coragem, sinal, perda da razão; mas que virá, isso é certo, então até lá, vamos continuar a sorrir--vamos mentir e vender a nossa ilusão para mais tolos, cegos, desejosos por viver. A verdade ainda virá pra eles, mas até lá, vamos deixá-los aproveitar a fantasia, assim como nós fizemos há um bom tempo atrás.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 24/04/2014
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