À perfeição da natureza

Podemos dizer, afirmar até, que dentre todas as coisas, talvez a natureza seja o elemento mais misterioso do universo. Não há dúvidas de que seja perfeita. O que levanta dúvidas são as suas razões. É difícil aceitar tragédias naturais; terremotos, furacões, maremotos, vulcões; toda a sorte de tragédias, uma para cada tipo de ambiente existente na terra. uma para os quatro elementos: água, fogo, terra e ar. Não há como escapar. Assim como não há como conceber um motivo para tamanha destruição.

O que a torna misteriosa, é que o mesmo poder de destruição é igualado apenas pelo seu poder de criação. A beleza que ela é capaz de criar é muitas vezes atordoante, o suficiente para nos hipnotizar, nos fazendo perder a noção de tempo e espaço, o suficiente para despertar em cada um pensamentos inpensáveis, despertando a nossa mais profunda essência. Suas criações mais incríveis são aquelas que não podemos tocar, cheirar, ouvir ou sentir. Podemos apenas contemplar, pasmos, a perfeição de sua obra, sem tocar, cheirar, ouvir ou sentir.

Por maior que seja a vontade, por mais que o desespero tome conta de nossos corações ao contemplarmos e desejarmos, sabemos que não podemos tocar, cheirar ou sentir. Sabemos que, como a maioria das coisas perfeitas feitas pela natureza, só podemos contemplar. Ainda que esta visão conduza-nos a um transe aonde perdemos toda a noção de tempo e espaço; ainda que nossas pobres mentes de meros mortais, nos levando a sonhos aonde nossos corpos flutuam no espaço sem direção, vagando entre as estrelas brilhantes da noite, permitindo-nos ver coisas que somente os que ali contemplam podem ver. Ainda assim, só podemos olhar; só podemos sentar por horas tentando entender as razões da natureza, tentando entender como algumas de suas criações podem atingir a perfeição. Tentar enteder como essas criações nos fazem sentir turbilhões de emoçoes, um caldeirão de sentimentos misturados; o mesmo desespero que sentimos ao ver a destruição através das mãos avassaladoras da natureza levando morte em números incontáveis, é o sentimento que paira em nossos corações quando percebemos que podemos apenas olhar; a angústia ao não poder fazer nada para os que morrem nos consome quando esticamos os braços e não podemos tocar. Porém, a mesma serenidade que o vai em vem das ondas aportando nas mais belas praias nos fazem relaxar, é o mesmo que nos causa um torpor agradável no momento em que apreciamos a beleza da criação tão carinhosamente esculpida pela natureza.

A certeza que temos, a única certeza que temos, é que a natureza é perfeita, e de tempos em tempos nos presenteia com suas igualmente perfeitas criações. A nós, pobres mortais, resta o sentimento de insignificância perante sua magnificência; o mesmo sentimento que nos faz ter certeza de que fomos feitos apenas para, de longe, contemplar, aceitando a nossa condição de simples mortais.