Tchau, estou indo

Tchau, estou indo; o mundo lá fora me chama. É uma voz muito sutil, de fato, mas meus ouvidos são bons. Isso porque, talvez, algo ou alguém dentro de mim esteve bem atento por mim esse tempo todo; esteve esperando esse momento, para não sei o quê; talvez queira me provar, se é que existe uma prova nesse sentido. Ou, novamente talvez, esquecendo agora a possibilidade estranha de ter alguém que ouça por mim, eu escute esses vozes porque eu mesmo, sozinho, tenha fraquejado e me jogado num desses poços da vida, e no fundo desse poço, depois de bater com a cabeça, comecei a ouvir vozes estranhas que eu acreditei ser do mundo. Talvez seja isso, ou talvez exista mais de infinitas outras possibilidades.

Mas, por outro lado, talvez isso tudo seja mentira. Talvez não exista sequer uma possibilidade. Talvez minhas palavras sejam mentira. Talvez meus olhos, meus ouvidos, minhas mãos, meus passos, ou até o chão seja mentira. Talvez o próprio poço seja mentira e o sair dele nunca exista porque simplesmente nele eu não caí. Talvez o fraquejar ou o ter firmeza também não exista. Novamente, talvez tudo seja uma mentira só. E pensando assim, talvez o próprio mundo não exista e tudo não passa de um sonho indecifrável. Um sonho mau e indecifrável, por sinal, sonhado por alguém que também não existe. O bom e o mau, o certo e o errado, o feio e o bonito, a terra e a lua, marte, sol, são conceitos esparsos inaplicáveis. Eu não existo. Você não existe. Eles não existem. E os conceitos são realidades de um sonho que também não existe.

Entretanto, por tudo ser mentira, o não existir, ou a própria ilusão talvez seja mentira e tudo realmente exista. Talvez minha contradição exista e seja consciente para que eu a perceba e escolha um caminho para seguir. Talvez eu e você existamos e precisemos discutir a verdade e a mentira. Talvez meu poço exista e, no fundo dele, eu precise refletir sobre a queda. Talvez o mundo realmente exista e as vozes que agora escuto sejam dele mesmo, e talvez sejam mais reais que a mim próprio; o que não contraria o fato de eu também ser uma verdade. Para terminar, talvez o mundo de fato me chame e eu tenha realmente que ir. Talvez eu tenha que conhecer duas maçãs para que assim eu escolha uma. Por isso, tchau, estou indo; o mundo lá fora me chama.

Hugo LC
Enviado por Hugo LC em 14/05/2014
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