HOLLY EU
Sonhei ter sido canonizado
Amanheci petrificado
Imagem em gesso em plena catedral
Tinha uma parte santa
E inda mantinha outra infernal
Podia ver meu rosto composto num vitral
Um cordeiro com um halozinho de luz
A me destacar num negro rebanho
Vestes de tecido de cortina
Usados a não mais poder na Palestina
Urdidos em pelo de cabra e leite de menina
Cabelos batendo nos ombros
Meio João Batista meio rock'n'Roll
Andando por ruinas romanas, escombros
Pele morena condimentada pelo sol
Barba sempre por fazer
Mantendo aquele semblante acabado e grave
Próprio dos santos em panfletos de igrejas
Aquele olhar perdido no deserto
Estilo: filho um dia isso tudo será seu
Era um misto de todos os santos
Sentia-me tocado por todo santo conhecido
Uma espécie de santo de segunda
Santo marginalizado dos santos celebridades
Santo de todo o dia, ordinário mesmo
Meio homem meio Virgem Maria
Não tinha nada de ungido
Meio anjo, meio santo caído
Sentia-me presente em cada igreja da Bahia
Trezentas e sessenta e cinco vezes santo
Crivado por setas perdidas
Feito São Sebastião da Cidade Maravilhosa
Meus desejos todos realizados
Indeciso não sabia para quem torcer
Ora abraçava São Jorge, ora o dragão
Por vezes perdi a cabeça
Feito um batista João
Sobre as águas andei poucas vezes
Só quando impelido por minha porção São Tomé
Desafiando-me falando aramaico e latim
Línguas mortas que nem o Google sabe o que são