Farsa

Ei, sabe duma coisa, do meu amor? Ele, querido, é segredo. Lacrado a sete chaves, não há quem o tire daqui. Tão bem escondido que até eu me esqueço que existe, esqueço de o alimentar, glorificar, me orgulhar. Pois bem, devemo-nos orgulhar dessa capacidade nossa de amar, não é? Eu me orgulho. Me orgulho porque para mim é uma conquista. Conquista gigantesca, bonita, mas ainda assim, secreta. Nem você nem nenhum deles pode saber que sustento tamanha fraqueza em mim. Sou forte, sou grande, inalcançável e inatingível! Só não olha para mim. Se olhar, meu muro cai, minha fortaleza vai abaixo em tremedeiras, em espasmos, em vontades súbitas de ceder aos impulsos. Façamos um combinado: fica quieto bem aí, sossegado, bonito para eu olhar e quase saborear e nada sai do lugar. Você é livre desse meu amor sofrido, doído, envergonhado e eu, sou livre do maior mal de todos: você. O que tu faz comigo, me faz acreditar, me faz tentar ser. Pois eu sei que não sou das apaixonadas, é só o teu riso besta e discreto que me faz achar, por um segundinho só, que quem sabe, haja espaço para esse meninice em mim. Mas não há, então vá embora e leve o meu amor, enterre-o, esqueça-o. E vê se me deixa esquecer também.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 24/05/2014
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