Já fiz e não fiz

''Já ri e chorei de todos os modos. Já esperneei, dei gargalhadas, risos simpáticos como máscara, choros guardados de mágoa. Já brinquei, dancei, sorri. Fui elogiada, criticada, ou simplesmente não notada. Já errei passos em uma aula inteira, já fiz minha melhor aula arrasando nas técnicas. Já me xingaram. Já pensei alto, já falei baixo, ou já deixei de falar o que estava entalado na garganta - por medo. Aliás, por medo eu não vivi.

Já perdi amigos que achei que seriam para a eternidade e fiz novas belas amizades. Já vivi num tempo morto e esse tempo me matou. Já vaguei pelas ruas sem direção, já falei o que não pensava, já disse que não precisava. Já atuei lindas cenas de romance no meu quarto, já dancei suaves passos na sala - dancei tão leve, como uma bailarina que chora. Já revelei meu coração, deixando os muros da cidade preenchidos de traços coloridos, ou preto e branco. Isso depende. Já morri de amores, já cantei louvores.

Sabe quando a nossa alma é tão sensível que vive se machucando e você se sente tão fraco a ponto de se entregar para a dor?. Já gritei no travesseiro ou só na minha mente. Já apaguei poemas, rasguei desenhos, senti vergonha. Já menti e colhi as sementes venenosas da qual mal nasceram plantas , mas também falei a verdade e as sementes se tornaram pedras que se atiravam em minha direção. Já vivi momentos tão bons que são inesquecíveis até para minha memória fraca - eu diria que minha memória é de girafa, por que ela vive com a cabeça nas nuvens. Falaram que o gato comeu a minha língua, mas na verdade quem comeu foi o medo.''