A VIDA
O real é descalço
Mal depilado, mal lavado
A realidade não tem perfume
E às vezes cheira mal
Maltrapilha e sem maquiagem
O dia-a-dia nem sempre tem sol
A vida real claudica e baba
Anda de cadeira de rodas
Está inconsciente e muda
Com febre alta delira e pede ajuda
Traz os pés sujos de barro
O cotidiano geme pelos corredores
Sofre de desamores
Cai no chão com estertores
Implora por atenção
Tem hematomas nos olhos e nas mãos
Vive sem nenhum perdão
O viver diário
Implora por misericórdia
Tem micose, lordose e desvio de coluna
Às vezes brilha
Mas com o brilho fosco da desolação
Usa fralda geriátrica
Toma cachaça
E vive num mundo paralelo
De esqueletos fumando crack no portão
A vida não tem o rosa dos contos de fadas
Nem o brilho dos programas de televisão