Quandrado Branco

Vou escrever sem pensar. Com licença.

Um mestre de Tai Chi Chuan me disse: "eu não sei o que aconteceu, mas você guarda muita raiva. E não é recente." Achei interessante como uma massagem com um mestre de arte marcial virou um espécie de cartomancia e logo depois um divã para psicanálise sem muitas palavras. Mas com direito a lenço e tudo.

A mesma coisa acontece com a fisioterapeuta com quem faço RPG. Ela lê meu corpo e diz como eu vivo, o que eu faço, quais meus costumes.

Nossas escolhas são tão intensas que marcam fisicamente. Lembro-me de quando há grandes escolhas a serem feitas na minha vida, vejo-me como outra pessoa. Nos transformamos a partir da escolhas que fazemos.

Como o fato de ser tímida, reclusa e desastrada para andar afeta não só meus dias e um pouco meu convívio social, a forma como absorvo conhecimento, e meu meio profissional, mas meu corpo, sua estrutura muscular e óssea.

Mudar não é fácil. Arrumar a postura e olhar pra frente.

"Você deve evitar praticar esportes de impacto". Quer dizer que andar com firmeza também não é andar com passos fortes, mas saber onde pisa. "Olha o máximo que conseguir pra frente, decora os obstáculos e vai!" Maravilhoso como parece fácil falar. Só "Vai!"

Não é só ir. Não andando no centro com tanto xixi pelo chão.

São tantas recomendações...

Apresentar a primeira parte do meu trabalho final na faculdade foi um exemplo desse meu jeito de andar. Um gingado estranho, meio que caindo e se atropelando pra frente. Meio receoso no começo e mais expansivo no final com direito a ficar mais a vontade.

Tenho dores fortes nas costas, e eu sou quem a deforma com esse meu jeito bizarro de andar, com esse sentar meio quebrado de lado.

Escoliose e hiperlordose! 4 anos e meio na faculdade sem exercícios físicos e muitas noites de sono sem dormir, some a isso as mochilas pesadas, o transporte público agradabilíssimo e tem a minha coluna! Com certeza a de muitos outros por aí.

Levanta a cabeça e "vai!". Eu ri. Ri de verdade. Não aquele riso que a gente dá por sociabilizar. Gargalhei. Achei que era realmente pra ser engraçado.

A parte boa é ter uma ajuda pra alongar até onde achava que não dava pra alongar. Alongar a bunda é algo surreal e nunca imaginado pelo meu corpo. A bunda! Esses anatomistas são incríveis.

Ela vive falando "não se preocupa, eu sou mulher também." Bem, isso eu já tinha notado. Mas acho que ela sente essa necessidade de confirmar. Não que isso elimine qualquer tipo de de preocupação que eu possa ter com alguém achando que é livre pra tocar onde quiser dos meus ossinhos.

A massagem também é boa. Aquelas bolinhas que a gente tem no pescoço são "Nódulos de tensão". A massagem do mestre era melhor, além do mais que é bem legal alguém que sabe "ler o corpo". Eu acho cômico também. Mas eu rio muito mesmo. Sistemas de defesa, e tudo mais.

Fora tudo isso de TFG e coluna arregaçada, eu tenho que arrumar essa parte dos músculos do abdome. Uma espécie de equilíbrio entre as tensões deve haver. Aí uma acaba anulando a outra, ou atenuando. A gente traduz para nossa língua pra entender o que os doutores falam.

Eu já falei isso pra tanta gente, mas às vezes me acalenta o ego pensar na quantidade de gente que pode ler isso e também se identificar com essa preocupação tola.

Eu gosto mais assim, de escrever sem ter um objetivo.

Mas de tudo isso, o que eu mais achei estupendo (adoro essa palavra!) foi como depois daquela massagem do mestre o resto do meu dia fluiu como uma corrente com caminho certo e sem pedras para perturbar as águas, preciso. Afinal, não são todos os dias que se conversa com alguém que fez exatamente aquilo que você quer um dia fazer, que essa pessoa fala com você no meio da multidão e que você ouve o que ela tem para falar, de verdade.

Tai Chi Chuan funciona, como todas as outras coisas em que você ou o seu medo de se entregar lhe permitir acreditar.

Sabrina Vieira
Enviado por Sabrina Vieira em 05/06/2014
Reeditado em 04/10/2014
Código do texto: T4834079
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