Confissão

Acho que no fim das contas, todas essas minhas teorias, pretextos para frustrações e falsas razões para tudo, tudo isso remete a você. Por mais que eu insista em negar, em criar essa imagem indestrutível de mim mesma, de minha força, beleza e valor, nada disso passa de uma desculpa para não ferir o meu orgulho mimado, infantil; ele sabe, mas se recusa a admitir: ele precisa de você.

Eu preciso, sempre precisei. O querer já é diferente, o isolamento sempre o leva embora junto de qualquer perspectiva, vontade, crença no mais mísero prazer. Por muito tempo, acredite, eu realmente não lhe quis. Te joguei fora daqui, do meu pensamento, de qualquer resquício de emoção. Mas nunca deixei de precisar de ti aqui, comigo, vendo e sentindo tudo que passa por mim, que me toca e me afeta. Seu tato sempre me fez falta, precisava da tua voz, do calor do teu abraço tímido, essa ladainha romântica que há muito eu nego, recuso, desprezo. Só que agora, meu bem, agora não tem mais jeito-- você veio para ficar. Para me fisgar de uma vez, não me permitir nem por um segundo me enganar, mentir para mim, para ti, para nós.

Você veio e escancarou a verdade diante de mim, deu-me esse ultimato dolorido, cruel e necessário em que me vejo agora. E eu não aguento mais fugir. Eu me rendo a isso, a estupidez do sentimento, a impulsividade e a vergonha que tenho dessa maldita falta de razão. E sabe, está tudo bem; mesmo eu não sabendo quem tu és e o que poderá ser para mim, se me encaixarei no que quero, no que devo ser para você, eu simplesmente aceito isso tudo. Aceito o sabor da dúvida, as fagulhas entre o medo e desejo, a ansiedade por finalmente tê-lo, conhecê-lo de uma vez. Então venha, corra logo para cá e acabe com o mistério, o martírio da solidão. Vem e apenas me diz que talvez, somente talvez, ela não seja eterna.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 09/06/2014
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