Mascare-me

Eu quero mais do que isso. Mais do que posso ver, sentir e tocar nessa redoma, essa jaula bem decorada, bem estampada que eu fiz para esconder as manchas da parede. Cores e formas, tudo mente, tudo diz o que acredito precisar ouvir, tudo me conforta e me protege disso tudo. Isso tudo com que eu sonho, brinco, quase sou. Finjo acreditar ser, uso essas máscaras cheias de artifícios e com cinismo, orgulho-me. Orgulho-me das minhas vaidades, ilusões, fortalezas de mármore intransponíveis e ostento-as para quem olha, passa por aqui e por mera educação, finge interesse, cria admiração. Admiração sem nem saber pelo quê, chama de bonito e reluzente, e assim criam-se nossas correntes. Correntes do que gostamos de contar uns aos outros, de cultivar e corroer dentro de nós. E eu gosto de pensar que posso ser, talvez até mereça mais do que isso. Talvez seja verdade, mas de qualquer maneira, qualquer chance de retorno já foi-se de mim há muito tempo; hoje, agora só me resta dizer, gritar minhas verdades forjadas ao topo dos meus pulmões até elas se impregnarem em meus olhos. Até eu ser esse resquício de beleza e de uma vez por todas, acabar com o sonho. Matá-lo e junto dele, toda possibilidade de bondade existente dentro de mim.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 14/06/2014
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