Ilusório

Eu te amo até meio que sem querer, sabe? Eu te vejo quando quero, se escolher, passo o dia sem sua imagem, sua voz, como imagino ser seu toque. Eu me prendo nisso tudo. Nessa gaiola do meu inocente saber, de acreditar que tenho controle quem sou e o que você é para mim. Dessa vez, escolhi não sonhar. Já caí, voei e vi além, senti o chão desse precipício tantas vezes que não consigo mais apenas deixar-me existir.

Eu sou alguém e insisto em achar que tenho o poder de escolher de como poder amar alguém. E é assim que eu tento contigo. Deixando-o ir embora, correr, desaparecer do meu horizonte limitado e viver sua vida tão bonita, me matar de inveja, de vontade e desejo escondido aqui no meu recanto. Recanto de pensamento, questões infinitas e respostas escassas, da negação e mentira constante, mentira que rege tudo, rege a mim. Digo que não me lembro do seu rosto, que não tenho lugar nesse universo, que estou espiando além do que me é permitido por eu mesma. Essa é a minha única verdade, a de quem sou, o que posso. Posso pensar além do infinito do absurdo, do imbecil, do além da razão e das pessoas, de mim. Mas não posso, não devo, não consigo sentir. Qualquer mísera palpitação é farsa, ilusão, pura e ardilosa enganação daquilo que foge da minha consciência: o estúpido, maldito e indestrutível sentimento, por menor que ele seja. Ele já me rasgou centenas, milhares de vezes. Já me possuiu, sussurrou ordens no meu ouvido, agarrou minha mão e levou-me a lugares insanos de mim mesma, da vida que acreditei que existia. Nada era real além do que eu sentia. Do que eu queria, projetava, via e quase tocava em meu imaginário inundado das figuras que tantos passaram e deixaram para mim. Mas dessa vez não; eu escolhi não me permitir. Mas naqueles mínimos momentos de fuga, de sono, de refúgio secreto é que eu me lembro - eu não tenho esse direito. Se eu te amo, isso é tudo que eu tenho. É o que faz-me despertar, andar e correr, falar e gritar todos os dias que ainda existe algum ar, mesmo que frio em meus pulmões. E nada, nada vale mais do que isso.

Então, afinal de contas, eu não tenho escolha. Eu te quero e não há nada que eu possa fazer quanto a isso. Eu sou vítima da minha humanidade, e toda minha sagrada, imaculada racionalidade e sabedoria não irão me salvar. Vou cair, eu sei. Mas nessa queda, eu vou te amar. Quando alcançar o chão, dá-se um jeito, mas até lá, permaneça. Permaneça na linha tênue, delicada entre o pouco que eu sinto e o infinito que eu crio e guardo para mim. Essa bobagem, brincadeira de criança apaixonada que é meu bem maior, pelo menos por agora, por essa madrugada tediosa e preenchida, dominada pelo seu rosto.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 28/06/2014
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