Domingos

Não sei se é só aquela "síndrome de domingo" ou se eu que não acordei direito, me estagnei naquele período de sono e olhos semi-abertos da manhã. Ou nesse caso, das 14h da tarde. Só sei que algo está errado. Não sei se é o frio que me pegou de repente, se é aquela consciência maldita que fica no pé da orelha todo dia, se é ressaca fraquinha que não quer passar. (Se é por você não estar aqui).

Mas essa última hipótese eu devo descartar, verdade. Você nunca está aqui e nunca esteve, então essa não pode ser a causa. Se bem que a sua ausência não faz a minha vontade desaparecer, convenhamos. Vontade só de respirar perto de ti, soltar aquele sorriso sofrido, essas coisas bobas de gente que pensa estar apaixonada. Eu sei que não estou. É que a sua imagem me faz bem, pelo menos essa que eu projetei aqui. De qualquer maneira, voltemos ao domingo, ao agora tedioso e a noite que não parar de me sugar. Sugar minha energia, minha boa vontade com as frustrações cotidianas, minha inspiração besta de criança. Rosto áspero, olhos cansado, mãos secas e voz querendo ficar rouca; seu rosto permeando cada ação e eu na inocência tentando afastá-lo. Ah, entender tudo de si mesma não tem como ser fácil! Essa compreensão que todos buscam, os perdidos por aí vivem gritando, urgindo por ter? Deixem de besteira. Viva no calor daquilo que tua ignorância te proporciona e saiba ser grato. Ver-se totalmente, tudo de ruim e dolorido e que só você pode lidar é uma desgraça. Desgraça diária, a rotina faz-me aguentar. E o sonho, ah - sem ele eu não estava aqui para nada, nem reclamar nem forçar-te a ir embora da minha cabeça pelo resto do dia, da semana. Só da vida que não, espero eu.

Vai ficar tudo bem, não precisa me dizer isso. A semana já começa, a correria, o monte de conversa no ônibus, o gole escondido indo ou vindo embora de tal lugar sem graça. Nada disso vai durar. Em pouco tempo nem vou mais lembrar do tom da sua voz e vou parar com o lamento patético de nunca ter sentido o seu abraço. Vou querer outros, vou sim. Ficarei triste na semana e vou dar aquele jeito de sufocar seja qual o motivo. Vou me lembrar de você e tantos outros e nem vou mais ligar. Tudo vai embora, e esse sentimento estúpido não me servirá de nada. Mas obrigada. Obrigada por ao menos por hoje dar-me essa satisfação contraditória de odiar pensar que te amo. Eu sei que é mentira e eu a sustento, pois é tudo que eu tenho em mãos. A ilusão, minha energia, meu passo para frente por hoje e espero, por muitos outros dias. É um sabor que faz valer a pena todo esse infeliz fingimento daqui, de mim para ti, para todo mundo que vejo, cruzo na rua e faz-me sonhar.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 29/06/2014
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