Finitude

Eu te amo e isso não faz sentido. Eu te amo e eu não consigo entender, não consigo ver o porquê. Você me faz caminhar por linhas paralelas de mim mesma; enquanto eu fujo, eu nego e desvio os olhos, tudo que eu quero é ir, escondida da minha razão e julgamento, ir te ver com meus olhos fechados, mãos atadas e garganta sem nenhuma voz. Isso é tudo que eu preciso, a sua imagem me alimentando, surrando e dando-me abrigo, não me deixando ir embora e me afogando na ilusão.

Não há mais nada que eu possa querer; sentir nem que o menor dos seus toques, o riso e suspiro também, ser conhecida que te quer na surdida até ser pega de uma vez. Pega pela verdade, pelo que sei não ser e impossibilidade de fazê-lo enxergar tudo que eu faria para poder pertencer nem que a um mísero segundo do seu dia. Um dia da sua vida, uma vida das tantas com que também sonha que eu sei. Sonha e vive, sente por si e respira, e age, e fala e encanta. Nada pode valer mais do que isso. Eu seria boa, eu seria alguém; viveria mil vidas, mudava o semblante, o sorriso, livrava-me de meus segredos. Faria o que conseguisse imaginar para ter-te nem por um instante. Sei que não terei, mas você deu-me o sonho e agora ele me é de direito. É o que tenho de mim, de você e o que poderíamos ser num mesmo universo. Mas entre o espaço de ar, o tempo da sua fala que chega no meu ouvido e espelho dos sorrisos, ah, aí reside uma inifidade. Minha, sua e mil mundos, sabores e vistas que jamais se encontrarão. Um muro entre o que somos, mas não ao que sentimos. Ao menos da minha parte, não-- esse raio de emoção passa por tudo, por mim e minhas grades, só para pairar por aí e acreditar que será encontrado. E até eu chego a acreditar, a querer voar assim, nessa liberdade do que quer se chamar de amor.

Eu fico então, eu escolho a gratidão. Gratidão pelo que sinto hoje, agora nessa vontade, nessa ilusão. A dor está bem aqui no batente da janela, louca para entrar, mas sabe, ainda não é sua hora. Logo mais virá para me dilacerar como lhe cabe, me deve até por tanta inocência, tudo bem. Mas agora eu quero e aceito nada além da alegria, da euforia da paixão, da possibilidade em que eu quase acredito. Eu vou é enganar a mim mesma e sentir todo o tolo prazer dessa mentira; uma hora tanto ela quanto a dor terão ido embora e vou poder me lembrar do quão feliz fiquei assim, nessa pequena eternidade que vem de permitir-se sonhar, nem que só por essa noite.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 01/07/2014
Reeditado em 01/07/2014
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