Silêncio

Eu sei que você não está aqui, que não me pertence. E estou bem com isso, há muito que já fiz minhas pazes com a realidade. A enfrento, sabe? Todo dia quando quero lhe ver, tocar, sentir, possuir nem que por um momento só. Quero tudo isso e ainda assim, deixo-lhe ir. Ir embora daqui, do pensamento, da vontade, dessa brincadeira de dizer que não ama, sentir, pensar demais e se confundir no emaranhado que tu crias em mim. É difícil, preciso dizer. Não posso compartilhar a felicidade banal do dia contigo, não posso brincar de ser gente, bicho normal, que vê, que sente, que age. Não, isso não é pra mim; ah, como queria que fosse! Queria poder ser aquela beleza que tu imaginas escondido, aquele ar que precisas, o refúgio impecável que mereces. Mas eu sou só uma pessoa pequena, daquelas que não tem como notar. Arrasto-me pra dar aquele sorriso largo só pra ver se tu ou qualquer um nota por aí, só isso. Não digo vazia, é claro. O que sonho e tenho comigo é maior do que jamais poderia descrever, mas a realidade há muito que me engoliu. Só ando quase que caindo nela, vendo semblantes como o teu me encantando, tentando, querendo me fazer acreditar que tenho chance. Mas sabe, existe um muro, uma barreira que ninguém vê-- uns vêm pra fazer desejo e outros pra desejar, simples assim. É algo horrível e nada otimista de se pensar, mas já concluí que é verdade. Teu sorriso existe pra me dilacerar e o meu, pra imitar, jogar-se a ti e tentar sentir o mínimo gosto. E eu me contento com isso. Dê-me só um fio de vida, de vontade saciada que vivo com esse amor para sempre. O sonho constrói-se da menor fagulha que tu jogas pra todo lado. Então nunca deixe de fazê-lo, de alimentar-me com a infinidade de poesia que existe em ti, mesmo que nem saibas, nem percebas. Para mim, isso é mais do que suficiente.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 10/07/2014
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