Involuntário

Da dor vem tanta coisa. Tanto caos, rede de pensamentos sem lógica, lembranças de todo lugar, vontades que nem sabíamos mais que tínhamos. Vem inspiração. Vem calma também, uma paz tão grande que chega a ser estranha. Parece que é o conformismo, que entendemos o que sentimos e deixamos de lutar, apenas nos entregamos de uma vez. Não como desistir, mas apenas largar das nossas rédeas e deixar a sensação nos levar, seja ela boa ou ruim. E também, isso não precisa ser o fim de tudo, eu acredito nisso. Acredito em novos amores, novas vontades e horizontes pra sonhar, colorir no esconderijo da nossa cabeça, sabe? Acredito sim. Tantas vezes achei estar no precipício final e depois de tudo, tive tanto sol, tanto chão, tanto sorriso pra esbanjar. Isso não é o fim, eu sei, eu sinto. É só mais uma das inúmeras quedas que ainda vou sofrer, já sofri, aceitei. Quando deixamos de resistir ao amor, não só o romântico, mas todas as suas formas, estamos em queda livre. Não há descanso, refúgio nem nada: é correr até perder o fôlego. E eu ainda o tenho, por Deus, tenho sim. Tenho para lhe amar, perder e ver outros, sonhar contigo por muito tempo, cuidar de mim e me machucar infinitas outras vezes. A dor é a certeza de que estamos vivos, pois é estranhamente fácil como esquecemos disso. Então não me deixa esquecer, me dilacera com a realidade que eu vou estar aqui, pronta pra te querer e deixar ir embora vez após vez, até não restar mais nenhum sangue correndo pelas minhas veias, pelo meu pulso cansado mas louco de sede, de vontade de ti e o que faz por mim toda vez que desisto de suspirar e ir em frente. Só vem e me empurra logo, me obriga mais uma vez a viver.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 11/07/2014
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