Prova Final

Imagino o que há do outro lado, além dessa jaula que escolhi como casa para mim. Se todas as coisas com que sonho podem mesmo se realizar lá fora e o quão insano esse mundo todo pode ser. Será que pode existir um lugar nesse meio para mim? Uma vista, um chão e ouso dizer, um alguém? Não posso me dar ao luxo de acreditar nisso, não. Devo abrir os olhos o máximo possível, forçar a visão em meio a neblina, projetar minha voz mesmo com as cordas vocais todas rasgadas, todas cansadas. Andar, andar incansavelmente por esse solo áspero, seco, tão árduo e fácil de fazer-me cair. Devo levantar todas as vezes, não olhar para os joelhos ralados e jamais reconhecer a sua dor. Essa é a minha única solução, esquecer de tudo, esquecer de mim. Do que já quis, imaginei, cultivei naquelas horas de inocência em que jamais pensava que o tempo iria passar. E ele não somente passou como veio, derrubou-me e me largou nos fins desse caminho que nem ao menos conheço. Andei nele às cegas por todo esse tempo e agora, olhando para trás não consigo me lembrar de ter percorrido tanto assim. E todos os passos nele que ainda me restam serão dados dessa maneira, na palidez do ceticismo, sempre fugindo da única coisa que jamais soube fazer: sonhar e me perder nisso tudo, no que via e criava para meu próprio deleite e sim, falsa segurança. Mas eu vou chegar ao fim, mesmo que sem vontade, sem o prazer tolo que é a mínima crença num amor para me orgulhar, dar como vitória nessa luta, no dualismo que há muito já permeia a minha vida.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 16/07/2014
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