Jardins

Eu deveria ficar feliz com isso, eu sei. Fui liberta, não é? Mais uma vez posso dar meus passos onde bem entender e não me prender a um mero sentimento. Uma mentira, uma farsa bem elaborada que me segurava e fazia acreditar. Que bem isso poderia jamais me fazer? Sua alegria era superficial, até eu mesma sabia disso. Me contentava assim. Contentava-me em saber que me enganava sozinha, que este era meu prazer que, mesmo inofensivo, causava-me esta culpa gigantesca. Agora tudo isso se foi; não sou mais escrava das minhas projeções, ideias vazias nem nada parecido: sou livre para existir sem todos esses laços, correntes, algemas que são as emoções. Ao menos são quando encontram uma veia para correr, fluir-- quando encontram alguém tão belo quanto você. Você veio, me fez desmoronar de minha fortaleza e com a mesma rapidez, desapareceu sem dor alguma. Não sabia, não sentiu; apenas existiu para mim e deu-me todas essas sementes de flores para o meu jardim, ainda que agora eu tenha de cuidar dele sozinha. Mas obrigada mesmo assim. Quando as flores desabrocharem, suas cores sempre me lembrarão do que tu deixaste aqui comigo. Uma vida, um momento sequer onde sim, consegui acreditar que havia lugar para mim noutro coração para enfim, poder repousar.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 16/07/2014
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