O MUNDO DOS FATOS

“Escritor apanhado em flagrante a deitar palavras no caixote do lixo, ao ser interrogado pelos leitores, defendeu-se afirmando que as palavras recusavam-se a ser romance. Queriam ser poema.”.

– remetido por Carla Reis Marques, em 16/07/14, pelo Facebook, a qual informa desconhecer a autoria. Pedi informações a http://fotomorfoses.blogspot.com/ , que me foi informado como fonte de coleta do texto.

Legal, muito gostoso o poema aposto acima (linear quanto ao formato), contido neste descolado e bem posto conjunto de vocábulos. Ou um moderníssimo e epigramático conto. O final é surpreendente. E também pega de jeito pela economia de palavras e o ritmo (ou cadenciamento) é ótimo. Lembra o micro conto de modelo americano: o "schocking" que causa, pelo imediatismo, surpresa e estranheza. Vê-se, por este exemplar, que o essencial não é o tamanho do conjunto em prosa ou em versos, e, sim, a sua projeção intelectiva no mundo dos fatos, tornando-a imagística capaz de ocupar lugar entre as coisas do consuetudinário da vida, porém, sempre a noviça coisificação, esteticamente falando. Aqui está o homem criador que vai além da simplória ou majestática inspiração ou espontaneidade. Sente-se, no intento do autor talentoso – pelo voo das palavras na cuca do leitor – a plenitude dos dois instantes da criação artística: a inspiração (intuição ou espontaneidade) e a transpiração, operação intelectiva, aquela que lhe dá forma definitiva. E é por aí que Beleza e Verdade se fazem autonômicas e se bastam. Enfim, espécimes que acompanham a qualquer criatura humana como sinetes sinalizadores da digital do talento. Em cada uma delas o efeito será, também, individuado...

– Do livro O CAPITAL DA PALAVRA, 2014.

http://www.recantodasletras.com.br/pensamentos/4887122