Princípio

O agudo que antes eu tentava com tanta força, tanta vontade de quem quer ser artista, hoje alcanço sem esforço algum. O riso que me era sofrido pra sair, viajar por aí, pelos sorrisos de quem estava do meu lado, agora não só escapa como contagia, faz-os sorrir e deleitar-se com o trivial junto de mim. Tanto mudou, mas tanto! Eu, o céu e o ar que entra e sai de nossos pulmões a cada instante, posso lhe jurar. Eles não são mais os mesmos. As estrelas que nos vigiam há bilhões de anos, elas são um caleidoscópio. Guardam consigo de tudo um pouco, de todas as possíveis formas humanas e só aguardam para nós erguermos os braços nem que um pouco apenas para tentar alcançá-las. No momento que o fazemos, um infinito renasce, desperta dentro de nós. Nossas pálpebras se abrem, nosso conjunto de medos, desejos e perguntas, todos esses dissolvem na poeira que deixamos para trás e dela, um novo ser começa-se a formar: nesse momento, não há mais nada que temer. O presente é nosso quadro, nosso campo vazio para corrermos e colorirmos da forma que quisermos, e nada em qualquer outra dimensão pode nos impedir. Nesse momento, somos donos de nós e mais ninguém. Então tenhamos mais um vestígio de coragem para levantarmos do chão, esticarmos as pontas dos dedos e gritar, berrar, urgir por um centímetro a mais sequer, um segundo e um suspiro mais próximo da projeção insana que vive acima de nós e nos envolve, faz sonhar e faz viver, mesmo que nem saibamos de sua existência.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 19/07/2014
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