Evitando

Nunca mais te direi o quanto me entristeceu nem os motivos que me causam insônia. Nunca mais ouvirás o meu coração chamado nem saberás do quanto andei triste, bordando as tardes com lágrimas que nem o sol conseguiu secar.

Deixei a noite atravessar os meus dias numa impertinência voraz de pássaros sonâmbulos, para que a minha boca mastigasse o teu nome. Nunca mais o pronunciei desde o tratado de paz silencioso que usar-se para me causar tamanha dor.

Evitando o confronto das nossas razões, mas em minha memória, fustigada pela falta que fazemos um ao outro, sempre busco uma faca para cortar as flores que plantamos em nossas lembranças. Ninguém se separa de quem ama impunemente.

É preciso desconstruir as imagens, rasgar as alegrias congeladas nos ideais que insistem, reavivar as farpas, desalgemar-se das ilusões e dormir sobre as mágoas redivivas pra caminhar rumo ao esquecimento. É preciso matar e morrer pra continuar vivendo.

ANJOLINDO
Enviado por ANJOLINDO em 23/07/2014
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