QUEM SÃO ELES?
Olho pra essas pessoas tristes
De que lugar será que elas vêm?
São brancas, pardas, negras vazias.
Modos diversos, sentir, querer.
Não as reconheço como iguais
Parecem distantes sombrias
Cabeças baixas nos trens e metrôs.
Como se vagassem sem rumo.
No entanto, repetem os caminhos
Dia após dia na mesma direção
Virão de subúrbios favelas, cortiços?
Trazendo seus cheiros e sabores distintos
Odores, suor das distâncias, andanças.
Às vezes penso não serem de lugar algum
Mas então de onde vêm?
Na língua um gosto amargo
Hálito forte, palavras contidas.
Casas presas em morros, encostas.
Passos largos do costume de andar
De que lugar serão?
Olho através dos vidros, janelas.
Por entre as grades que nos separam
Há grades por toda a parte
Também ajudei a erguê-las.
As levanto mais alto cada dia
Isolo a tristeza dessa gente
Olhares incriminadores como facas de ponta
Preciso estar só.
Só com os meus
Com os da minha estirpe
Meus iguais
Nos meus limites, meus domínios.
Sim, porque é preciso ter domínios.
Arrepio-me em tocá-las
Sinto como doença.
Tenho horror ao odor.
Desvio o olhar
Tenho pressa de entrar
Eu preciso trancar
Finjo aceitar, finjo abraçar.
Quero levantar muros, divisões.
Formas de excluir, segregar.
Digo que não, mas ajo afirmando.
Passo e não as vejo.
Não as quero ver
Eu odeio vê-las
Mas elas estão por toda a parte.
Cobrando, olhando.
Sinto que tenho parte na dor
No clamor, nessa falta de amor.
Há dias pergunto de onde elas vêm?
Não quero vê-las, mas estão por toda parte