Minimalidade

E é bem capaz de que no final de tudo isso, a resposta seja aquilo que há tanto nós sabíamos. Que ela esteja na vida, no mínimo de coragem que deixamos despertar e dar-nos aquele sopro de humanidade de que tanto precisamos. Talvez, ela esteja sim no amor. Em cada pequena representação dele, manifestação tímida, aflorada que deixamos escapar dos muros de concreto de nossa alma. Nós a cercamos. Dia após dia, a enclausuramos e não a permitimos a menor das vistas, das vontades, dos sonhos sem maldade. Fazemos de tudo nosso inimigo, veneno, horror. O horror está em nós mesmos, isso sim; então pelo menor valor que ainda consigamos distinguir nisso tudo, vamos aceitá-lo. Aceitá-lo, abraça-lo, chama-lo de irmão, de parte da gente. Somos feitos disso, todos nós. Das feridas abertas, das dores de que ninguém quer lembrar, das raivas entre as paixões, dos infinitos desejos sufocados o tempo todo. E está tudo bem, de verdade-- nunca seremos a utopia de nossa projeção, nunca seremos o produto do sonho em si. Mas não precisamos, não podemos entregar-nos à angústia. Deixemos o sonho, o sabor correr por cada parte de nós, gritemos as vontades e os medos, vamos colocá-los de vez em nosso reflexo imperfeito. Sejamos isso, a junção do sujo e do puro, do que somos e vemos pelos olhos dos outros, da negação e rendição. Sejamos nós, humanos e nada mais.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 04/08/2014
Código do texto: T4909907
Classificação de conteúdo: seguro