Fôlego

Não tem problema, eu te juro. Pode vir, machucar, esfaquear-me o quanto quiser. Não é isso que me preocupa, machuca de verdade. A dor não reside num momento bobo, pequeno, vazio. Ela está lá, latente e pronta para me sugar no tempo; no infinito, se quer saber. São os dias, as palavras não ditas, o disparate do coração que me segura na hora de agir e dizer, isso sim. É essa sucessão de histórias, de filmes que eu já vi que me destroem, matam a cada dia. É o medo. É o querer existir, ser e não poder.

É assistir as vidas alheias, é sonhar mais do que devo, é enxergar o surreal e ser tola o suficiente para acreditar que nele existe alguma verdade. Alguma possibilidade, por assim dizer. Mas não, eu sei que não. Eu sei do mundo, de ti e de mim. Do que somos e poderíamos ser noutra dimensão. Eu lhe garanto que aqui existe muito mais. Mais do que esse semblante vazio, sem graça, sem cor. Existe uma infinidade de coisas mínimas, bonitas, escondidas prontas para lhe encantar. E do teu mundo, eu nem ouso imaginar: eu apenas quero.

Eu sei da verdade e por mais que lide com ela, diga-me que é mentira. Diga que tem jeito, que não tem ordem, que isso é um caos incontrolável e, que tudo que preciso fazer é ter a coragem para pisar nele. Cair, bailar, correr, levantar-me e te achar. Achar as milhares de almas bonitas, doar-me à elas, pertencer e possuí-las como tanto vejo acontecer. Não deixe-me ficar aqui, sufocada nisso tudo. Na razão, no princípio da realidade que jamais nos permitirá encontra-nos. Eu quero, preciso acreditar nessa insanidade, então apenas deixe-me fazê-lo.

Esteja aqui, presente e respire junto de mim. Quem sabe, por mais louco que isso seja, o espaço entre nós manifeste alguma magia, alguma poesia que nos una, da maneira que for. Não preciso acreditar em todo o surreal: apenas quero, preciso saber que um resquício daqui possa sim ser indefinível. Louco, lindo e possível; para mim, para ti e todos que cruzam meu caminho e inspiram-me mais do que posso aguentar entre meus pulmões já tão exauridos aqui.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 06/08/2014
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