Mendicância

Não dá, simplesmente não tem mais como eu permanecer assim. Permanecer aqui, inerte, sem vida, sem ar, sem cor e só vendo esse monte de forma e de luz vibrando e dançando em minha frente. Eu quero, mereço fazer parte. Mereço, tenho tanto para mostrar-lhes, encantar, inspirar, apenas jogar ao mundo e esperar alguma mísera resposta. Eu quero todas, todas as respostas possíveis.

Todas as raivas, as repulsas e horrores, as paixões e amores, as dores sem explicação que possam caber numa pessoa; que possam existir dentro de mim. Quero ser sua, seja lá quem tu fores. Um estranho, um qualquer, um semblante, uma face que por alguma razão ficou na memória. Você veio e foi embora com a mesma intensidade, insanidade, impacto sobre a pequenez duma alma feito a minha. Alma que vem, tenta, cai e diz pros quatro cantos sobre a sua dor. Alma que desiste fácil, muda de ideia, quer de tudo e acaba sendo pouco, sente-se vazia, não se enxerga de verdade. Não enxerga a verdade absurda dentro de si, a maravilha, a utopia de gente e de vontade, de querer e tentar ser que carrega consigo. Alma que se ama e que se odeia sem perceber, entender, admitir.

Eu quero ser essa alma para você de todas as maneiras que eu puder. Quero lhe dar toda a vida que possa habitar em mim, todo o fôlego, crença sem sentido, energia que não se justifica de jeito algum. Quero ser o seu amor em todos os sentidos da palavra. Sua vida, seus pés que te botam e forçam no caminho, tua voz que mesmo rouca, ainda sai, tuas mãos que agem como podem nesse mundo, teu abraço que salva-me diariamente.

Deixa eu ser tudo isso, eu lhe suplico. Me arrasta, me devora, me destrói-- só não me larga aqui, sozinha. Aqui, de onde já não posso mais te ver e admirar, amar de longe. Dê-me migalhas, restos de si, o que for: mas me leva contigo. Serei o que puder, o que tu deixar em sua vida, apenas me permita por uma única vez. O que sinto pela estranheza dessa tua essência desconhecida vai além do que posso explicar, então, apenas lhe imploro, me deixa demonstrar. Daí em diante, prometo-lhe, nunca mais faltará-lhe amor algum nessa vida.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 10/08/2014
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