Confissão

Eu não estou aqui a sua procura. Não estou aqui pelo seu carinho, toque ou seja lá o que for. Estou aqui pela vida e tudo que ela carrega consigo. Toda a dor e todo o prazer que ombros humanos possam carregar. Não quero palavras, suspiros ou amor de maneira alguma: quero o sangue, a carne, a vontade de criança que mal sabe o que quer. Quero a inocência que se perde nas encruzilhadas dos olhos famintos pelo caminho, quero a gente que grita por aí, quero-me em toda as formas que existam em mim. Quero ser isso, essa projeção, imagem, ilusão. Não quero ouvir de belezas, romances ou ideias, quero nada além do que o instante pode nos dar: os pulmões ofegantes para permanecerem vivos e nada mais. Se tu não pode dar-me isso, vá-te embora daqui. Preciso lembrar-me do mais puro instinto duma pessoa, de quem anda, vive, sente e age: a grosseria, a raiva, o momento sem definição alguma e todo o calor presente nele. Sentimentos não me servem de nada, entenda. São apenas desculpas, pretextos, mentiras. Quero-te em toda forma que parece possível. Então não hesite, eu lhe imploro. Engula os medos, os pensamentos vazios, as perguntas sem fim algum e apenas venha pra cá, ao meu lado. Dê me toda vivacidade possível para meu ser e então, faça o que quiseres. Depois da combustão, nada mais me importa. Mas até lá, tu és a única saída pra uma alma perdida, sedenta e torta feito a minha. Esqueça-te das linhas e apenas venha colorir, dar-me impulsos pro próximo passo dessa carne.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 15/08/2014
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