Fique

Eu te quero te todas as maneiras possíveis. Te quero como amante, amigo, estranho, conhecido. A tua respiração na noite gélida, teu toque tímido em toda área que faz-me sentir viva novamente. Imploro-te, não se vá; não precisa me amar, entenda. Está tudo bem do jeito que está. Contento-me perfeitamente aqui, amando-te na surdida, escondida dos sorrisos que cruzam teu dia, teu caminho bonito, ensolarado o tempo todo. Aqui, meu amor, só chove. Trovões, raios e relâmpagos que cortam os dias nublados que são quase como um verão. O calor que tenho quando vejo tua face, por menor que seja, é mais do que suficiente para aquecer minha alma por mil anos. Posso viver disso por todo o tempo que me resta, seja lá quanto for. Só não me largue aqui, na beira da estrada, no asfalto frio de onde tu passou e não notou beleza alguma. Ah, tenho tanto para lhe mostrar. O que posso mais fazer? Queria ser dona de sua consciência, sua vontade e razão, mas não posso-- dependo disso, desse curso torto e desalinhado que é a vida por si só. Dependo do olhar de caridade que tu me jogas quando quer, das palavras que solta no ar sem ao menos perceber, do gosto teu que não quer sair da minha boca. Se tu fosse meu, ah, que vida não lhe daria. Quantas alegrias e prazeres, verdades e repousos não lhe oferecia dia após dia apenas para ter-lhe aqui por mais um segundo sequer. Mas não, eu estou ciente da realidade: teu semblante é bonito, intacto demais pra pele suja, áspera feito a minha poder tocar e possuir. Posso só querer-te de longe, suspirar até o fim de meus pulmões todos meus desejos descabidos e inocentes que consigo me lembrar.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 16/08/2014
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