Do relógio de minha avó

Resolvi então pensar que a vida se resume num conto mal resolvido.

Onde não se pode se doar, ou se doer simplesmente. Não que seja assim tão simples se doar... se doer... mas, as vezes acontece, e as vezes não; Igual ao natal. Simplesmente não pode, não nesse conto.

Não pode nem se fazer ausência, nem dor, sempre presente, um tal presente no mais simples embrulho, me embrulhando o estômago seu cheiro de álcool. Me embriagando de leve sua sua voz suave e distante... Bem, da qual voz vos falo não há muito, nem por si nem pelo outro dizer. Essa dor, gêmea de um tal fulano chamado amor aparece de repente, e tira o sono, a fome, o fôlego e tudo mais que puder tirar, não perdoa, nem sempre fenece, nem se comove, nem tampouco se pergunta se tem lugar, capítulo mal escrito, sem parágrafo nem mau final.

Essa tal vida, meio mal resolvida, um livro de mil finais. Nem se conta tão sozinha, nem se espalha a tantos mares, esse conto que mais guia, brinca e brinda novas letras.

Essa vida tão mal paga, é professora que não faz greve, esse conto tão depressa que se vai naturalmente, se lê rápido, bem rápido, quase que sonorizando, se parar perde o balanço, perde a graça, perde o pulso, perde o ave maria, se esquece do pão do dia, se perde por entre a própria afobação.

Respiração que agora é lenta, se escora e ecoa bem sem pressa no grisalho, e se perde a alegria, e para todo o carnaval, cessa a bateria do tal velho coração.

Esse conto mal resolvido, um conflito eterno em mim.

Vai e vem de tinta vermelha numa tela rabiscada. Rascunho mil planos de fuga, outrora apenas um plano pra fugir de mim.

Esse conto mal resolvido que começou com a tal de Eva tentando em vão ser o centro das atenções, esperta mesmo foi a cobra, fez tudo do jeito dela, e sem nenhuma culpa goza hoje o resto da vida, ri da cara dos tais bocós.

Esse conto bem mal resolvido, bem triste e bem leve, de vinte mil passos ao paraíso, essa vida amarga, como o chá de boldo que você tomava pra passar a dor de estômago... Quem sabe esse amargor todo não cura essa velha mania de pensar que no fim, os bonzinhos sempre perdem, essa mania de achar que é tão errado ter fé na vida.

Quem sabe, depois do chá de boldo venha o bolo da tal avó, um chamego e a tão desejada paz.

Aprendi com a tal avó, essa velha vida.

Jaina
Enviado por Jaina em 21/08/2014
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