Verdade

Eu queria poder me sentir assim o tempo todo. Assim, desse jeito tão desacelerado e, ao mesmo tempo, o mais ágil o possível nesse caminho. Despreocupado e vivaz, presente, real; de verdade, não consigo imaginar algo mais valoroso e impossível do que isso. Essa certeza, segurança, ousadia toda presente numa só pessoa. Em poder lhe dizer todas as coisas que me passam pela cabeça, em engolir todos meus receios e apenas dizer, gritar pros quatro cantos todas as malícias, vontades, horrores e belezas que possam existir dentro de mim. Ser livre, só isso.

Tão simples e ainda assim, tão distante, inalcançável. Quem me dera este prazer. Esta síntese, este suspiro cheio de vida, de si e do que sabe e quer, apenas indo em frente a agindo da maneira que lhe parece mais viável. Ah, que sonho mais louco este é! Apenas flutuar, fluir com o vento e o que este traz consigo. Deixar de viver feito cata-vento, esperando a vida aparecer-me no batente da porta e convidar-me pra brincar. Ser assim, simplista, sem pretensão. Loucura, insanidade absoluta isso tudo. Não tem jeito, sei do que sou feita, onde meus passos são aceitos e qual caminho posso seguir: o dos tijolos contados, andarilhos contidos, desejos escondidos, é lá que devo traçar-me de vez.

Que tristeza ter essa maldita consciência, devo dizer. Quem me dera, nem que por só um segundo, ter toda essa coragem, essa humanidade de que falam os poetas dentro de mim e ser nada além do que tenho em meu cerne de uma vez por todas. Quem me dera ter todo esse coração, essa alma pra carregar tamanho peso, inocência, vontade descabida de viver e nada mais. Viver por ti e pelo que talvez, noutra realidade, pudéssemos ser juntos se eu fosse outro alguém, outra face doutro toque e hálito pra acordar-lhes todas as manhãs.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 22/08/2014
Reeditado em 22/08/2014
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