Universos

Se você sente, diga. Diga, berre, grite de todas as maneiras que lhe forem possíveis. Não segure-se, contenha-se, não se desperdice por medos inventados por estranhos. Nada é mais nosso do que aquilo que levamos dentro de nós, aquilo em nossa síntese, presente em nosso instinto, na mais pura humanidade de cada um. Pensamos, pensamos demais, todos nós. Nos entregamos a isso, viramos devedores, pagadores de promessa das quais nem mais lembramos, nos fazemos de escravos por nada, por meras imagens criadas para nos manterem nessa jaula maldita. Ah, somos tão mais, se ao menos soubéssemos. Somos o infinito, cada um de nós. Somos todos partículas do indefinível, intangível, daquilo que não se pode descrever. E negamos isso. Negamos essa natureza dia após dia e dizemos que estamos todos bem. Mentirosos desgraçados que viramos todos nós. Estamos urgindo, implorando por um sopro de vida, de verdade, de vontade, da menor parcela de humanidade que nos for concedida. Estamos todos famintos, loucos de sede, de raiva e da mais pura necessidade que uma pele pode carregar consigo. Mas escolhemos estancar tudo isso. Estancar o sangue e as palavras, os desejos e a cultivamos a malícia, a droga da mentira, da máscara bem decorada que faz todos nós acreditarmos. Se hoje nos dói, a culpa é de ninguém mais além de nós mesmos. Nós que escolhemos as grades, o medo, a culpa ao invés de apenas aceitarmos a besta, animal, divindade presente em nós; merecemos toda essa dor. Que soframos então, pronto. Que sejamos vítimas de nossas próprias mentiras, que elas nos degolem e pisem quando formos nada além de carcaça. Quem sabe assim iremos aprender, a alma olhará de longe e irá lamentar, nem que por uma só vez, o quão tola foi por deixar essa verdade forjada sufocar todo universo presente em todos nós.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 24/08/2014
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