Doentio

Eu quero mais, mais de tudo isso. Todo esse circo, essa fachada de horrores, exibição contínua de belezas sem igual. Quero todo o prazer que este mundo possa me dar, toda a dor que me defina, deixe marcas, histórias para levar comigo. Quero teus abraços, respiração quente ao meu lado, as brigas de amigos e rivais, o orgulho e misericórdia que tu puderes me conceder. Quero ser tua vassala. Me arrastar aos teus pés por uma migalha, um risco do teu ser junto do meu, dum segundo ao seu lado sentindo tua pele. Toda a raiva, o ardor, o medo que tu possa me proporcionar, dê-me. Dê-me agora ou vá-te embora daqui, deixe-me em paz. Deixe-me para morrer, para lembrar do teu rosto até que a minha consciência desista de uma vez por todas. Se tu pretendes ficar, mostre-me agora. Segure minha mão, toque a minha pele. Me conceda mais um instante com teu gosto impregnado em meus lábios, tuas palavras correndo-me pelos ouvidos que não querem deixar tua voz partir. Se é para ficar na solidão, dê logo o último golpe, o último gole de teu veneno e assista-me esvanecer diante de teus olhos. Caso contrário, fique comigo. Fique aqui por cada segundo, cada momento de seu dia, ame cada parte escondida de mim. Sinta o que posso lhe conceder, aceite, brinque, guarde-me contigo quando não puder mais estar ao seu lado. Não se vá, eu te imploro. Fique mais um dia, mais um segundo tátil de nossas peles, mais uma dose embriagante do teu sorriso junto do meu. Eu quero ser tudo que posso ao seu lado, eu quero dominar teu dia e noite, vida e morte, sono e sonho desperto que me deixares conhecer. Não irei lhe machucar, não irei deixar-lhe cair; se fosses meu, nada jamais faria-lhe sentir dor. Isso é uma promessa, uma declaração, minha total vontade de devoção à ti. Mas vá logo, suma daqui. Se a solidão é o fim, então que devore-me de uma vez. E obrigada, obrigada por ter me permitido possuir tua beleza, nem que por um segundo sequer.