Final

As pessoas se contradizem tanto, já percebeu? Uma hora dizem do valor de estar sozinho, da felicidade que só é genuína quando não precisamos ostentá-la pra ninguém, pois bem; no minuto seguinte, lá vem-me com as citações bonitas de amor, de que a vida só vale algo quando podemos compartilhá-la.

Eu me perco nisso tudo. Verdade, posso te jurar; como a gente faz pra saber como se vive, como se ama? Se eu te amo, te quero ao meu lado. Mas sim, o bom senso me lembra que deixá-los viver, partir e sorrir mesmo que longe de mim. Então eu os permito, tudo certo. E aí? aí sinto falta. Uma falta gigante, maldita, desgraçada. De tudo, de todos! Dos amigos, dos colegas, meros conhecidos, rostos da rotina, palavras que já contamos ter em nosso dia. Dos amantes, dos amantes platônicos, daqueles poucos que nos amam alimentando nosso ego e nós fingimos nem saber. Ah, sabemos sim. Sabemos de tudo, toda a luxúria e a hipocrisia que distribuímos quando nos fazemos de vítima, de coitados sem afeto.

Eu tenho afeto, tu tens também, vamos parar de fingir. Temos assédio até. Temos vontade, medo e desejos malucos, maldades e raivas que só se manifestam da maneira que nosso intelecto de merda considera formal, aceitável. E aí, pergunto-lhes? Sim, eu te odeio. Odeio pela droga que tu acendes em mim, por lembrar-me que posso ser querida, amada, desejada da maneira mais banal e gostosa que há: como gente, como carne, bicho que vive e solta seu fôlego único feito trago de cigarro na cara dos outros. E tu fazes isso comigo também, lhe garanto. Não foi o primeiro, não será o último, lógico-- mas meu bem, é o de agora, desse raio de instante em que teu gosto não me sai da cabeça. Foda-se. Eu não te amo, não te quero por um dia, uma vida nem coisa alguma dessa laia.

Te quero pro dilacerar do agora, pra sede infeliz que mal me deixa respirar. Quero o abraço dos amigos, a fome da auto-imagem babaca que não sabe se sustentar sozinha, quero fazer todos sentirem-se como deuses! E farei-o, isso lhes prometo. Apenas venham, venham pra esse porto, esse cais imundo em que lhes recebo e me deixem nadar em suas águas, mergulhar e me afogar na beleza e na sujeira de cada um que para por aqui.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 06/09/2014
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